23 de out. de 2010

A porção escritora do ator Lázaro Ramos

O ator Lázaro Ramos esteve em São José dos Campos ontem para lançar o seu primeiro livro, "A Velha Sentada" (Editora Uirapuru), durante a 8ª Feira do Jovem Empreendedor Joseense. À princípio, pode parecer estranho o lançamento de um livro infantil em um evento sobre empreendedorismo, mas para quem conhece a vocação da cidade e participou da coletiva do ator e escritor, a explicação fica bem clara.

O livro é mais um dos empreendimentos do ator, que desde os 16 anos se colocou como protagonista da própria história quando o grupo Olodum, do qual fazia parte, precisava de alguém para carregar seus pesados instrumentos de um bairro à outro da malemolente capital baiana. Sem pensar duas vezes ele disse "Eu levo!", mesmo com todos à sua volta duvidando de sua capacidade. 

E o garoto levou os tais instrumentos. Em sete viagens de ônibus, é verdade, mas levou. Dali para frente, dedicou-se tanto ao grupo e à profissão de ator que acabou tornando-se produtor do grupo. Mais uns anos e o baianinho "topetudo" virou estrela global. E como se não fosse suficiente, resolveu ser ator. Por que? 

"Porque eu sou abusado para caramba e adoro experimentar as coisas", brincou arranco gargalhadas da imprensa. Brincadeira que tem um toque de seriedade, afinal, se tem uma coisa que eu aprendi fazendo a cobertura da Feira foi que empreender é, justamente, abusar das oportunidades, "dar a cara à tapa e se jogar no mundo", como bem definiu o novo escritor. 

Lázaro despertou ainda mais a minha admiração quando disse que o sucesso não depende de fama, mas o que se faz para permanecer em destaque. Nas palavras dele: "Eu só poderei explicar essa palavra [sucesso] quando eu tiver 85 anos e puder olhar para trás e avaliar tudo o que eu fiz". 

Para justificar o fato de escrever um livro em uma época em que o número de leitores no Brasil está em franca decadência o ator foi de uma beleza emocionante em seu discurso. "Já que eu conquistei visibilidade quero levar coisas boas para as pessoas e um livro é a melhor coisa do mundo", disse. 

E que mensagem ele quer passar ao contar a sua história empreendedora para os construtores do país do futuro? Simples: "Empreender é acreditar em si mesmo mesmo que todo mundo não acredite. É se aprimorar,  procurar estratégias para realizar e, muitas, vezes, é não ter outra oportunidade", ensinou o ator que  ainda se emociona com o título de escritor que lhe foi conferido recentemente. 

O livro. Se tudo isso não bastasse, "A Velha Sentada" conta a história de uma garotinha que te tão desanimada parece ter mais idade do que realmente tem. Um dia uma vizinha lhe diz que ela "parece ter uma velha sentada na sua cabeça" e, no melhor estilo "Marcelo, marmelo, martelo" (o menino que levava tudo ao pé da letra, da obra infantil de Ruth Rocha ) ela mergulha na própria imaginação em busca dessa velha. 

No meio dessa trama aparentemente inocente e lúdica, Lázaro aproveita o espaço para discutir temas como o uso consciente da internet e o buillying. Alternativa muito esperta de transmitir coisas boas para a molecada. 

É como eu sempre digo, algumas pessoas merecem o sucesso que tem. Se já aplaudia o ator, aplaudo mais o escritor e mais ainda o ser humano. Tem certas situações que só o meu trabalho pode me proporcionar.... Conhecer pessoas interessantes é uma delas. 

Sobre a obra de Ruth Souza: Quem não conhece "Marcelo Marmelo Martelo" deve conhecer. Marcelo é uma criança saudável, esperta e questionadora. Imagina todas as cenas que escuta e quer respostas que não existem como o porquê do nome das coisas. Não sei quanto a vocês, mas eu tinha (tenho) uma boa porção de "Marcelo Marmelo Martelo". Alguém aí sabe me dizer por que cadeira chama cadeira e não chama mesa?

16 de mar. de 2010

Diogo Poças resgata a qualidade da música brasileira

Com 1,92 m de altura, traços marcantes e carisma de sobra, Diogo Poças bem que poderia ser modelo, mas não é. Contrariando as evidências, o moço é um cantor.

E dos melhores que o Brasil já produziu nos últimos tempos. Autêntico e corajoso, Diogo arrisca fazer Bossa Nova em tempos de batidas contagiantes, refrões de fácil memorização e pouco (ou nenhum) conteúdo.

Falante, maduro e tendo a música no seu DNA o cantor é um romântico incorrigível que fez uma música para conquistar a mulher dos seus sonhos (e conquistou!), acredita no seu trabalho e não tem o menor pudor em se assumir como um homem sensível em todos os sentidos. “Eu sou tudo o que não pode: nervoso, ansioso, chorão...”, confessa.

Aos 35 anos o rapaz vive (quase) a plenitude de sua vida (para atingir esse estágio ainda falta um filho, mas isso é uma outra história!). Diogo Poças é um cantor muito especial. Com um timbre de voz peculiar, seu som é cheio de charme e bossa.

Embora não negue seu amor ao ritmo de Tom Jobim, em seu CD de estreia, Tempo, o cantor vai do samba ao reggae, passando pela MPB e arranjando espaço até para o jazz pop clássico de Frank Sinatra.

A influência dos acordes do dono dos mais enigmáticos e sedutores olhos azuis da história da música se faz presente na regravação de Moonlight Serenade, que causa discórdia na crítica especializada.

“Eu recebi muitas críticas por ter regravado. Boas e ruins, mas eu quis gravar do meu jeito. O cara é o Frank Sinatra!!!!! Nunca vou ser igual a ele!!!!”, diz.

Assim como Sinatra, outros dos seus ídolos estão presentes no álbum através de versões de canções que fazem parte da trilha sonora pessoal do cantor: Tom Jobim, Caetano e Gil deixam a sua marca e compõem o repertório de Tempo.

Ciente do seu tamanho musical, Diogo não fez questão de se prender ao formato de suas fontes de inspiração e criou versões inusitadas que carregam uma assinatura musical inconfundível.

A escolha do repertório teve como único critério o gosto pessoal. “Eu comecei a cantar a uma altura da vida em que pouca coisa me importa muito. Fiz o disco para mim, com as canções que eu gosto. Quero falar de amor, beleza, de coisas bonitas com músicos bons. Isso é que importa”, confessa.

E é possível afirmar que ele conseguiu fazer isso com excelência. Diogo Poças é transparente, passional e transmite a sua verdade em cada sentença. Depois de uma conversa de pouco mais do que meia hora, já dá para se ter boa noção do que vai na alma desse artista que transpira sensibilidade e ver tudo isso traduzido em suas letras e no jeito com que entoa versos consagrados.

Cheio de Bossa


Aos três anos de idade, o cantor já espalhava sua bossa em gravações familiares. De lá para cá, Diogo se envolveu com publicidade e foi acumulando composições e canções por 16 anos, até que um acidente de moto o obrigou a dar um stop no ritmo frenético da sua vida e disparou um alarme interno: era hora de realizar seu sonho.

“A verdade é que quando você passa por uma situação dessas, desperta uma série de questões internas... eu tive mesmo de morrer mesmo. Daí eu parei, terminei algumas músicas, busquei parcerias e me envolvi nisso. A publicidade não estava me trazendo felicidade”, revela.

Seu sonho de infância era ser crooner, aquele cantor de baladas populares do mesmo naipe de Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Bing Crosby, ou, na tradução de Diogo Poças, “aquele cantor que independe da banda, cantor por profissão mesmo”, define.

Para Diogo, o ofício cantor está muito banalizado nos dias de hoje e é justamente o resgate da indescritível emoção de cantar que ele pretende fazer com o seu talento. “Cantar é diferente de tudo, é como saltar de bungee jump...é uma exposição constante, uma profissão de risco, um nervo exposto...”, dispara.


Como quem mergulha no abismo vazio, Diogo Poças se lançou na cena musical brasileira ousando tirar a poeira do cinqüentenário estilo musical que projetou o Brasil no mundo através dos acordes de Tom, Vinícius e companhia e justifica a sua escolha.

“A Bossa Nova é chique, tem brasilidade, samba, cantor, compositor e harmonia. É a síntese de tudo o que eu amo na vida, sem contar que é um movimento brasileiro, que aflorou no teu jardim e isso não tem preço!”, orgulha-se.

Para Diogo Tom Jobim é o típico artista multitarefa, embora não tenha gravado nenhuma canção do mestre, em seu show faz questão de cantar “Lígia”, como uma forma de homenagear o grande mestre.

“Tom me encanta pela sua sensibilidade artística. Ele é compositor excepcional, intérprete maravilhoso e um pensador acima de tudo”.

 Outro personagem que merece destaque em suas referências musicais é o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil. “Gil está no meu coração. Amo mesmo. Eu tive a sorte de conhecê-lo e é incrível como você se sente pequeno pelo tamanho do cara....”, declara.

Fã confesso, Diogo não resistiu e gravou “A linha e o linho”, uma das mais belas canções de Gilberto Gil. Na voz de Diogo, a música ganhou uma aura de leveza e simplicidade bem diferentes do tom melancólico que o mestre Gil imprimiu aos mesmos versos.

Sobre a ousadia de trazer de volta a Bossa Nova para uma época que nem de longe lembra o romantismo do final da década de 50, Diogo tem uma justificativa simples: “Acredito, sinceramente que a Bossa Nova sempre terá espaço na sociedade. Se não existir isso, prefiro morrer tentando”.

8 de mar. de 2010

Sobre sexo, mentiras e videotape

Foi em clima de descontração e cumplicidade que o elenco da peça PLAY! recebeu o Bastidores da Cultura no último sábado, 6 de março, para uma animada entrevista. Sérgio Marone, Daniela Galli, Rodrigo Nogueira e Cynthia Falabella esbanjaram bom humor e simpatia para falar de um assunto tão polêmico quanto delicado nos dias de hoje: fidelidade.

Com conceitos diferentes sobre o tema, os atores ressaltam justamente o caráter atual do assunto como a razão para o sucesso da peça. “É um texto extremamente contemporâneo, de fácil identificação e que provoca boas reflexões”, destaca Marone. Daniela acredita que esse é um dos fatores, mas acrescenta: “O texto atinge uma gama de faixas etárias muito diferentes, tem uma linguagem muito ágil e a discussão entre o que é verdade e o que é mentira é muito pertinente hoje”, diz a moça.

Roteirista e um dos protagonistas da peça, Rodrigo acredita em um quinto elemento no palco: a cumplicidade entre os atores. “A nossa relação, essa vontade de estar junto dá uma leveza ao texto que é muito quadrado, isso se reflete no humor”, observa o ator. Cynthia faz coro com o amigo: “Teatro é coletivo, se não existe 50% de cada um dos elementos que estão aqui, não funciona”, afirma.

A peça

PLAY! nasceu da vontade da atriz e produtora da peça, Maria Maya, de levar para os palcos uma adaptação do filme “Sexo, Mentiras e Videotape” (1989), do consagrado diretor Steven Sonderberg, que conta a história de um triângulo amoroso entre César (Rodrigo Nogueira) e as irmãs Ana (Daniela Galli) e Carla (Cynthia Falabella).

Maria tentou conseguir os direitos do filme, mas não foi feliz. No entanto, não desistiu da ideia de levar aquela temática para o teatro, assim, contou com apoio de Rodrigo Nogueira, que relembra o episódio. “Diante da impossibilidade de transformar o filme numa peça, Maria decidiu fazer uma peça sobre o filme, trabalhando os conceitos de verdade e mentira. O filme é antigo, o texto é mais profundo, não fazia sentido reproduzir e o resultado agradou direção e produção da peça”, orgulha-se o dublê de ator e roteirista.

Como se pode imaginar, falar de um triângulo amoroso envolvendo irmãs não é uma tarefa fácil, mas Rodrigo dissolveu esse nó com doses extras de bom – humor. Na verdade, a grande temática da peça é o embate entre verdade e mentira, fidelidade e traição, são essas as reflexões que os atores querem levar para o público.

Para Daniella, as relações humanas hoje pecam pela superficialidade e é preciso refletir muito sobre esse assunto para que o amor e o respeito não se percam nesse universo raso. “Hoje usa-se de muitos artifícios, muitas regras e pouca verdade nos relacionamentos. Essa é a grande reflexão que a peça traz", diz.

Para Rodrigo, o grande barato da peça é fazer as pessoas pensarem sobre o tênue limiar entre verdade e mentira no mundo contemporâneo. “Não existe mais diferença entre o real e o ficcional. E se não existe isso, o que me impede de criar uma verdade para mim, de inventar uma vida que eu quero?”, provoca.

Já Sérgio acredita no debate sobre intimidade como o principal questionamento de PLAY! “Não precisa ter intimidade para ter sexo e nem sempre o sexo envolve intimidade e as pessoas estão cada vez mais distantes e carentes”, avalia o ator.


Desde a estreia, o espetáculo está lotando a casa e fazendo sucesso entre jovens e adultos.E se você se interessou pela matéria, corra, a temporada de PLAY! em São José dos Campos está acabando!  



A peça fica em cartaz até 14 de março. Sábado (13), às 21h e domingo (14), às 19h, no Teatro Colinas, que fica na Av. São João, 2.200 - térreo - Jardim das Colinas.ão João, 2.20 na 0na

19 de fev. de 2010

Nadiejo usa a música para transformar

Talentoso, bem informado, consciente de seu papel social. Assim é Nadiejo Pedroso, cantor que canta e encanta os ouvintes joseenses há quase quinze anos. Ousado e dono de arranjos criativos para músicas já conhecidas pelo grande público, Nadiejo é um dos poucos brasileiros que conseguem tirar seu sustento da arte, apesar do pouco incentivo à cultura no país. “Eu vivo de música e com a música”, orgulha-se.


Para ele, cantar é mais do que exercer uma profissão ou mostrar um talento, a música assume um sentido que vai além do que se vê à primeira vista. “A música é uma ferramenta de transformação íntima e social e quanto mais pessoas forem atingidas, melhor. Meu objetivo é levar mais emoção e mais beleza para a vida de mais pessoas”, revela sem medo de parecer piegas.


O moço confessa que a maior dificuldade para se firmar em mercado tão pouco valorizado é a financeira, mas acrescenta que, no caso específico de São José dos Campos (SP), falta mais excelência na produção artística. Segundo ele, a cidade tem espaço, público e talentos, mas falta divulgação. “O fazer artístico na cidade ainda é muito amador. Aristas e empresários não investem o suficiente nas produções; os espaços são mal construídos, em alguns, os artistas ficam escondidos como se a música não pudesse incomodar os clientes”, lamenta.


Apesar de todas as dificuldades, Nadiejo tem conseguido bastante fôlego ao longo de sua carreira. Com uma média de 20 shows por mês, atraindo um público que ronda a casa dos cem, o cantor se diz feliz com o seu balanço profissional. Carioca criado em solo joseense, o artista revela que já cantou para públicos diversos em preferências e volume, e garante que todas as adversidades são compensadas pelo prazer de cantar.

A carreira

Maduro e experiente, Nadiejo apresenta formatos de shows diferenciados que dependem do local e do público para o qual vai cantar. Em média, apresentação dura entre duas e três horas em que o cantor faz um mix entre suas composições e os sucessos já conhecidos do público, mas quem vai esperando um cover, ou seja, quem quer fechar os olhos e imaginar seu artista favorito tal a semelhança com o original, é melhor nem perder tempo e ficar em casa.


Isso porque Nadiejo tem um jeito muito especial de interpretar as canções consagradas pelos grandes nomes da música. Sem o menor receio, ele brinca com os arranjos, muda a cor, a cara, a atmosfera da música. Por exemplo, o clássico da fase roqueira do “rei” Roberto Carlos, “É proibido fumar”, ganha a sofisticação do jazz, com pegadas do blues de uma maneira que parece que estamos ouvindo uma outra canção.


Ele conta que tem lá as suas influências e preferências – João Bosco, Lenine, Zeca Baleiro, Caetano Veloso, Baden Powell e o pianista Peter Katter são alguns dos nomes ressaltados pelo cantor – mas o show segue o calor do momento em que está sendo feito. Sem roteiros, programas ou músicas pré-selecionadas ele consegue ler as entrelinhas do seu público e fazer uma apresentação que prima pela paradoxal mistura entre rigor e improviso que resulta em largos sorrisos e sussurros melódicos vindo da sua plateia. “O show vai se criando de acordo com a energia do local. Se é um público mais adulto, faço um tipo de música, se tem criança, faço música para divertir a garotada para que eles também curtam o show”, garante.


Tanta sensibilidade vem desde os tempos em que o menino Nadiejo trocou o piano pelo violão e saiu encantando multidões por aí. Isso aconteceu quanto ainda ensaiava sua entrada na adolescência. O rapaz entrou na vida adulta dividindo-se entre a arte e a faculdade de Direito até que em 1995 descobriu que a rotina burocrática de um advogado não atendia às suas expectativas para o futuro. Largou tudo e arriscou na carreira artística.


Graças à sua garra, determinação e, óbvio, ao seu talento, Nadiejo conseguiu superar todos os desafios e gravar dois CD’s. O primeiro álbum, “Distâncias”,foi lançado em 1998 com canções próprias; o segundo, de 2005 não tem um nome específico, mas ele chama de “Álbum Azul” porque “o encarte é todo feito em azul”, explica. Nesse segundo trabalho, além das suas composições, Nadiejo fez interpretações de sucessos da MPB. Em ambos os casos, a venda dos CD’s se deu por impulso, ou seja, ele oferecia o álbum quando ia cantar e garante que a aceitação do público era boa.


Nas composições autorais, Nadiejo não segue um tema único e usa o mundo que o cerca como fonte de inspiração. “Eu declaro meu amor. Seja por um lugar, por uma cidade, por uma pessoa ou por uma paisagem especial... falo também de sonhos que eu tive durante a noite, de questões cotidianas e de esteriótipos”, confessa.


Na gaveta o artista guarda um projeto muito especial. “Quero gravar um DVD em um formato diferente, privilegiando closes, off’s. com uma coletânea de artistas da região. Quero fazer uma coisa mais artística, apresentando um pouco da história da vida desses artistas”, sonha.
Para ele esse tipo de trabalho de identificação do artista local é fundamental para que a cultura passe a ocupar lugar de destaque na formação do cidadão.


“Falta educação artística, as pessoas não sabem quem são os artistas e se você não sabe quem é Ana Cañas [cantora paulistana que lançou seu primeiro Cd , “Amor e Caos”, em 2007, arrancando elogios da crítica especializada], você não vai se sentir estimulado para ir a um show dela...falta informação e conscientização dos agentes culturais para a formação do público”, avalia.


*As fotos utilizadas nesta matéria fazem parte do arquivo pessoal do cantor

18 de fev. de 2010

Cinthia Jardim é movida por amor

Nascida em Cruzeiro, no interior paulista, Cinhtia Jardim já demonstrava talento e bom gosto musical desde a infância. Aos oito anos de idade a pequena se derretia com as vozes de Elis Regina e Marisa Monte. O tempo passou e a paixão pela música só fez crescer. Adolescente, a moça se mudou para São José dos Campos (SP), estudou Publicidade e se descobriu profissionalmente.

Ainda na faculdade ela fazia pequenas apresentações informais para os amigos que já reconheciam o seu talento vocal. Em 2001 Cinthia conheceu o cantor Nadiejo que a apresentou ao mercado musical joseense. Através do amigo, a moça conheceu outros músicos e bandas e se firmou de vez como uma das protagonistas da cena musical do Vale do Paraíba.

De lá para cá, ela que queria apenas encontrar músicos de qualidade com os quais pudesse tocar, formou, casou, teve filhos, lançou projetos e continua sonhando com o dia em que poderá largar tudo e viver de sua arte. Apaixonada pelo que faz, a moça avalia positivamente o desenrolar de sua carreira. “Está melhor do que eu esperava. No começo eu só queria espaço e músicos para tocar e eu já até gravei um CD. Minha carreira está crescendo na medida em que os sonhos crescem”, afirma.

E para realizar seus sonhos, Cinthia conta com o apoio incondicional do marido e também músico, Fabiano Whyte. Com ele a moça se apresenta pelos bares da cidade no melhor estilo “um banquinho e um violão”, embalando as noites dos joseenses com muita poesia. Além de ser o homem da sua vida, Fabiano é seu parceiro e grande incentivador. Cinthia sintetiza a relação com o amado: “Foi um encontro bacana, uma troca muito boa”, diz.


A cantora sabe do que está falando. Apaixonada por MPB, Cinthia conheceu o rock e o blues pelas mãos de Fabiano e isso só veio a acrescentar ao seu trabalho, ampliando o leque de opções de suas canções. Da mesma forma, ela acredita que seu gosto pela música popular contribuiu bastante para o desenvolvimento profissional de seu marido.


Essa união do trabalho com a família mostra bem a essência da cantora que, segundo suas próprias palavras, é feita de amor. “Amor pelos meus filhos – Cinthia é mãe de Pedro (6) e João (2) – pelo meu marido, pela minha família, pelos meus amigos, pela minha profissão, pela música... É tudo o que me mantém acreditando nos meus sonhos”, declara.


Cena de Mulher


Em total sintonia, os dois seguem seus caminhos juntos e também individualmente e, de cinco anos para cá, a moça tem deixado os covers um pouco de lado para se dedicar a um trabalho autoral que tenha mais a sua cara.


Foi seguindo essa proposta que Cinthia Jardim lançou seu primeiro CD em 2009. Cena de Mulher é um trabalho exclusivamente autoral produzido por Fabiano Whyte, com direção musical de Jorjão Carvalho (arranjador, baixista e compositor). O CD traz notas de pop, salsa, jazz e bolero. Nas letras, Cinthia aborda temas como o amor e a própria música, ou seja, ela fala do seu universo particular.


Para dar corpo ao projeto, Cinthia contou com nomes de peso da arena musical do Vale do Paraíba. Interpretando suas canções estão os músicos Marcelo Moreira (bateria), Fernando Pontes (piano), Clevinho Oliveira (sax e flautas), Leandro Lima (sax), Tuia Lencione (vocais), Eliane Pescara (vocais), Natássia Carvalho (vocais), Beto Richieli (guitarras), Lucas Andrade (guitarras), Freddie Fuzzi (guitarras), Kabé Pinheiro (percussão), Diminha Moreira (percussão) e Soró (percussão).



Foi em um show para mais ou menos 110 pessoas, seguindo uma estética diferenciada que Cinthia apresentou a sua Cena de Mulher para o público. Para compô-la a moça reuniu quatro diferentes talentos femininos que dividiram a cena em total harmonia. Além da música, foram contemplados o teatro, com a presença da atriz Milena Roberta; a literatura, pelas mãos da escritora Nana Freitas e as artes plásticas através do trabalho de Andressa Carvalho.


Para ela o álbum, que é uma mistura de estilos, pode ser definido como “pop, salsa, jazz e bolero”, comenta. Além disso, o trabalho explora mais o seu lado compositora. Modesta, Cinthia revela que esse é o seu favorito. “Acredito mais na minha porção compositora do que na cantora”, assume.


Futuro



Quanto aos próximos sonhos, Cinthia Jardim já sabe bem o que quer e como realizar. “Eu quero ter mais espaço para o meu trabalho autoral e ser reconhecida por isso. Cantar é o que eu mais gosto de fazer, é expressar o que tem de mais íntimo na alma”, revela. Enquanto isso não acontece, ela segue interpretando as canções de seus ídolos e só faz uma exigência: “Meu gosto musical tem que ser respeitado. Só toco o que eu gosto de tocar.”


O que pode parecer egoísmo artístico, na verdade, é um regalo para seu público já que a moça de ouvido apurado tem uma vasta bagagem cultural e um bom gosto inegável. Em seu ipod tocam os hits de Maria Rita, da novata Céu e das americanas Amy Winehouse, Ella Fitzgerald e outros representantes do jazz e do blues. Além dessas, é claro, sempre sobra espaço para as suas “musas” Elis Regina e Marisa Monte e mais recentemente, Jane Monheit tem feito a cabeça e os ouvidos de Cinthia Jardim.


Mais do que um prazer, ouvir música é, para essa cantora, uma forma de aprendizado, de enriquecimento cultural e profissional. Daí sua predileção pelas vozes femininas. “Eu foco em cantoras para aprender mais sobre os recursos e técnicas vocais que elas utilizam, mas eu gosto de outras coisas também”, garante.



E o que ela quer para sua vida? Simples, “ser feliz dentro da música e da família”, dispara.


*As fotos desta matéria fazem parte do arquivo pessoal da cantora.