6 de mar. de 2009

Sobre Zeca Baleiro

Para quem gosta de música e escreve sobre cultura e está em Juiz de Fora neste seis de março, é impossível passar batido pelo grande show do dia (ou da noite, se preferirem): Zeca Baleiro volta à cidade para mais um incrível show (que eu por força da minha conta bancária zerada, não poderei ir).


Enquanto fico aqui sonhando com as luzes, cores e altas doses de poesias de logo mais, vou divagar sobre o cara. Se fosse possível compará-lo a outros artistas da mesma envergadura, poderíamos dizer que Zeca Baleiro é fruto do mercado fonográfico recente, visto que seu primeiro álbum, Por onde andará Stephen Fry?, foi lançado em 97. Mas comparações são inúteis quando o assunto é Zeca Baleiro.


De todo modo, o artista se incluí no seleto grupo de exceções ao qual me referi no artigo anterior. Com uma batida ora suave, ora nervosa, suas letras são sutis e não seguem um único estilo. Zeca pode ser romântico, folclórico e de repente surpreender com um rock’n’ roll , um samba ou mesmo um rap. Tudo com a mesma competência e maestria.


À primeira vista, ninguém dá nada por esse maranhense decendente de sírios, apaixonado por balas (o doce mesmo. Daí o apelido que em nada lhe agradava e acabou virando a sua marca) que abandonou o comércio para se tornar música por pura paixão. Perspicaz, de personalidade forte e humor sagaz, Zeca é, ainda, dono de uma voz grave, daquelas que enche os ouvidos e a alma, transportando o ouvinte para um mundo à parte.


Nada comerciais, suas letras precisam de uma sensibilidade mais aflorada para serem “digeridas”. Não porque sejam rebuscadas, mas porque não são simples. Ele usa metáforas sutis para falar de coisas simples como a solidão ou o amor. Em meio a um lirismo raramente visto ele embute críticas sociais às vezes vorazes, às vezes camufladas de humor.


Zeca Baleiro não é uma unanimidade. Graças a Deus, porque já diria o sábio Nélson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. No entanto, não existe um “eu gosto mais ou menos de Zeca Baleiro”. Quem gosta, gosta muito. Quem não gosta, não gosta e pronto. Ousado, inquieto, crítico, conectado a tudo o que acontece, Baleiro é um dos poucos Artistas, com “A” maiúsculo mesmo, daqueles que não se prende a rituais ou estilos, que sabe a importância da mudança e a quem tudo pode inspirar belas canções de letras e sonoridades.


Não satisfeito com a marca de cinco discos de ouro, três prêmios Sharp, três indicações ao Grammy, o prêmio maior da música, cerca de 700 mil cd’s vendidos e uma série de mais de 800 shows que tiraram de casa mais de um milhão de pessoas, Baleiro se aventura pelas artes literárias e planeja lançar um livro em 2009 com os belos textos com os quais abastece seu site desde 2005. E o moço ainda pretende arrumar tempo para um programa de rádio, segundo informou em recente entrevista a um site local.


Se isso é muito? Pode ser, mas não me espantaria se amanhã ou depois a grande mídia divulgasse a manchete: “Livro de Zeca Baleiro está entre os mais vendidos”. O céu é o limite para esse artista versátil que adora cozinhar, ouvir músicas e não abandona suas raízes.


Zeca Baleiro é um homem de múltiplos talentos. Reservado, não faz questão de aparecer nas revistas com mulheres lindas e deslumbrantes, nem dá espaço para especulações sobre sua vida pessoal. Profissional, ele sabe que tem muito mais a oferecer para a sociedade do que munição para especulações sem sentido.


Para quem, por um motivo ou outro, não gosta de suas músicas, fica a dica para conferir seus textos. Para quem não gosta dos textos, que se deliciem com as músicas versáteis, inesperadas e belas. E para quem nunca ouviu falar de Zeca Baleiro, corra para o Google e descubra esse universo tão especial de talento, lirismo, poesia, irreverência e ousadia.