15 de mar. de 2009

Reflexões sobre a arte e a sociedade

"Tudo o que é sólido se desmancha no ar”
(Karl Marx)


Conta a história que na era medieval a arte era adorada enquanto manifestação de um dom divino, possuindo valor de culto. Dessa forma, ela adquiria uma originalidade e uma autenticidade que a fazia única.

No entanto, os tempos modernos vieram se contrapor a esse caráter ritualístico quando trouxeram novas tecnologias capazes de reproduzir fielmente a obra de arte que antes estava num status de criação divina.

Se você tem uma fotografia do quadro Monalisa, tecnicamente, não precisaria ir ao Louvre para conhecer o original. Se tem acesso à cópia digitalizada de Cem Anos de Solidão, não precisa comprar o livro de Gabriel Garcia Márquez e por aí vai, certo?

Sim, mas apenas em parte. Se por um lado as reproduções técnicas tornam tangíveis os grandes clássicos das artes, por outro, faz perder alguns detalhes que dependem do momento exato em que foi criado, é o que os críticos mais rigorosos chamam de “aura do objeto artístico”. Essa o indivíduo só terá acesso se estiver no Louvre ou onde quer que esteja a obra.

Mas aí fica uma questão: será que isso faz mesmo diferença? Se eu consigo ler o livro e captar a mensagem que ele quer transmitir, o que importa se é uma cópia ou um original? Se a arte foi feita para ser apreciada pelo maior número de pessoas possível, se ela tem que ir “onde o povo está”, então, que a tecnologia venha para cobrir essas lacunas e tornar tangíveis obras que antes eram adoradas à distância.

Acontece que no instante em que o criador passou a ser suplantado pelo reprodutor, mudou - se todo o estatuto da arte porque quebrou a sua unicidade, dando-lhe potência para ser algo além de um ritual. A arte tornou-se uma prática: a política. E isso é grave.

Nós só conhecemos a arte sob esse aspecto político e por isso é difícil aceitar a crítica que se faz a esse processo. Mas é preciso entender que a arte deixou de existir por ela mesma para assumir um objetivo, normalmente, atrelado aos interesses do mercado. Assim como todos os produtos da modernidade, a arte passa a ser uma manifestação efêmera e o artista passa a ser um espelho dessa sociedade onde tudo é fugaz.

Se antes a cultura era uma forma de se construir algo novo alicerçado na desconstrução de um conceito que já não atende à vontade das pessoas, a indústria cultural veio solapar esse caráter contestador do artista.

Nesse contexto, é preciso uma reflexão crítica sobre a sociedade para que os valores não se percam no caminho. E a quem cabe essa função? Aos intelectuais? Aos professores? Aos jornalistas?

Essa função, meus caros, cabe a qualquer indivíduo capaz de pensar de forma racional e coerente o mundo em que vive visando o progresso. Somente através da educação e do espírito crítico alcançamos o verdadeiro progresso, aquele que faz a nação andar para frente.

Ao lermos o jornal, assistirmos a TV ou acessarmos um blog temos que ter em mente que o que está sendo veiculado ali, não é uma verdade absoluta. Este post pode ser um grande amontoado de bobagens, mas se lhe fez pensar sobre o assunto, já cumpriu a missão a que se propôs.