28 de abr. de 2009

Sabedoria de uma boa sogra

É, inventaram mais uma data a ser comemorada. Talvez ela até já exista há muito tempo, mas quase ninguém sabe que hoje, 28 de abril, é o Dia da Sogra. É isso mesmo, elas têm um dia só para elas. Só soube disso no ano passado quando fui escalada para fazer uma matéria sobre o tema.

Revisitando o assunto um ano depois, não posso deixar de lembrar de uma personagem muito interessante. Algumas noras deram o tom da minha matéria, sempre muito delicadas, cheias de cuidados para não magoarem as mães de seus amados, elas foram generosas nos elogios e bastantes suaves nas críticas, no entanto, eis que de repente veio uma revelação carregada de sinceridade e verdade: > “as sogras são muito chatas e implicantes".

A autora da frase categórica (e que provavelmente estava engasgada na goela de muitas noras entrevistadas) é a dona Terezinha Andrade (foto abaixo), de 83 anos. Sogra, naturalmente. Jurando que não tem do que reclamar de seus genros e noras, dona Terezinha usa de sua experiência para analisar a situação que, para ela, não passa de mera falta de compreensão por parte de suas companheiras na função de sogra.


"As mães precisam entender que os (as) filhos (as) precisam do amparo de uma esposa (ou marido), elas já estão mais para lá do que para cá, não vão estar sempre ao lado deles para cuidar, zelar, enfim...” E é mais ou menos por aí mesmo. A maior parte das reclamações das noras parte da falta de respeito à individualidade do casal.

Algumas mães querem competir o tempo todo com a nova figura feminina na vida de seus filhos e acabam exagerando na dose. No afã de mostrar o quão especiais e eficientes na tarefa de cuidar das suas crias, elas acabam se metendo demais na relação do casal e daí vêm os conflitos que tornam a relação insustentável (porque, convenhamos, algumas noras também não nada fáceis e adooooram colocar pilha nessa briga).

Mais uma vez, são os cabelos brancos de dona Terezinha quem dizem a verdade sobre essa história. “O que mais me cativa na minha nora é jeito dela. Ela é educada, delicada e faz meu filho feliz. Isso é o que mais me interessa”. Com esse pensamento, muita sogra por aí economizaria energia e desgaste emocional na hora de lidar com o novo membro da família.

Mas seja qual for a receita para o bom relacionamento, uma coisa é certa: essas duas
mulheres têm que entender que o homem que "disputam" as ama com a mesma intensidade, o que muda é a forma do amor. Não há como comparar as duas coisas, porque o sentimento pode ser o mesmo, mas a forma que ele se manifesta é bem diferente e o marido-filho sabe bem a diferença entre essas manifestações.

E feliz dia a todas as sogras (inclusive a minha)!

25 de abr. de 2009

“Tão diferente daquilo que parecia”

A frase acima é um dos versos da canção I dreamed a dream do musical Os Miseráveis. A música virou mania na Internet graças a um programa de talentos britânico (uma espécie de Ídolos em que os jurados não poupam críticas deselegantes aos participantes). O tal programa revelou ao mundo uma escocesa que mexeu com a cabeça da mídia internacional.

Fenômeno mais recente na Internet, a cantora amadora Susan Boyle virou notícia em todos os veículos de comunicação. Isso seria ótimo se o motivo fosse a sua maravilhosa e emocionante voz, mas não é. O que fez de Susan um destaque foi a sua aparência.

Claro, em um mundo focado em valores superficiais onde vale mais um rosto bonito e um corpo bem moldado do que um caráter sólido ou um talento nato, a jovem senhora escocesa de 47 anos, que sonhava em participar de um concurso de talentos britânicos só poderia mesmo chamar a atenção por sua aparência.

Um pouco acima do peso, com os cabelos recém-tingidos e um guarda roupa que pode ser considerado excêntrico agora que ela é celebridade (nos tempos de ilustre desconhecida, a cantora era considerada brega mesmo), Susan Boyle surpreendeu os jurados do Britain’s Got Talent ao entoar o tema do musical Os Miseráveis.

E surpreendeu por quê? Simples, o mundo pós-moderno não espera muito de uma pessoa com tais características físicas, mas Susan mostrou justamente o contrário. Embora inexperiente, seu talento é nato e a música flui com naturalidade de suas cordas vocais, dizem que até arrancou lágrimas da plateia do tal show de talentos.

Seja como for, o que impressiona além da velocidade com que o vídeo se espalhou pelo mundo (já foi assistido por mais de 100 milhões de pessoas), é o nível das notícias divulgadas sobre o novo fenômeno pop. Digitando o nome Susan Boyle no Google (sempre ele) você encontra mais de 16 mil páginas com toda sorte de análises sobre o fenômeno que ela representa.

Obviamente não pesquisei as 16 mil, mas de curiosidade, bisbilhotei algumas e qual não foi o meu espanto ao perceber que em nenhuma dessas tinha alguma entrevista com personagem principal do furdunço que se instalou na mídia mundial. É, analisa-se o seu estilo, que já está até sendo considerado fashion, falam de seu cabelo, de sua aparência, da proposta para fazer um vídeo pornô e até de seu talento musical.

Mas peraí: vídeo pornô??? É isso mesmo! Ela foi convidada e a proposta, segundo o site que eu visitei (e prefiro nem divulgar o nome dado o nível baixo da notícia) teria sido oferecido um milhão de dólares pela participação da cantora no tal filme. O pior de tudo dessa notícia foi a fala atribuída a um representante da produtora do filme: “Além disso, depois de 47 anos de virgindade, desconfio que a Susan também deve estar ansiosa por pôr termo a essa situação mal possa”.

Pois, é caro internauta, por mais esdrúxulo que isso possa parecer, é exatamente assim que está escrito na página da Internet que traz a seguinte manchete: “Um milhão pela virgindade de Susan Boyle, a estrela do programa Britain’s Got Talent”. Então é assim, a mulher vai lá, dá literalmente um show, mostra um vozeirão de dar inveja em muito profissional por aí e o que se comenta é que “a velha, gorda, feia e virgem” foi convidada para fazer filme pornô.

Tem certas coisas que não dá para aceitar. E onde está a fala de Susan Boyle? O que essa mulher está pensando desse estardalhaço todo em torno de seu nome e, principalmente, de sua figura??? Ainda não vi nada referente a isso, se alguém aí souber de matéria com ela e não sobre ela, por favor, me mande o link. Agora fiquei curiosa para saber que passa na cabeça de personagem tão peculiar.


Acho que a irreverente Susan nunca imaginou que a realização de seu sonho lhe traria tanta repercussão. Mas eu acho que o que fica mesmo de mensagem de todo esse episódio é a própria letra da música que ela escolheu para tentar a sorte na TV.


“Tão diferente daquilo que parecia”. Esse com certeza é o pensamento de todos os que viram seu show pela primeira vez no tal programa de talentos e de todos que estão conhecendo Susan na rebarba do movimento que sua aparição causou, mas, mais do que isso, acho que esse deve ser o pensamento de Susan hoje, sobre a realização de seu maior sonho.

“Tão diferente daquilo que parecia”...

10 de abr. de 2009

Tradições

Está lá no dicionário, tradição: conhecimento ou prática resultante de transmissão oral ou de hábitos inveterados. E é sempre assim, geração após geração lendas, mitos, fatos etc. são repassados, introjetados como verdades absolutas e, sendo assim, o questionamento é zero.

Quer um exemplo? Estamos em plena Semana Santa, época recheada de tradições, mas de um jeito muito peculiar para cada família. Há quem faça um sacrifício durante toda a quaresma: parar de comer chocolates ou de beber lideram o ranking, mas radicalismos também não faltam. Tudo depende da maneira como a pessoa foi criada.

Em um País onde o catolicismo – por mais crises que sofra – ainda é a religião oficial não faltam tradicionalismos repetidos à exaustão e que, no fundo, não fazem o menor sentido. Para sermos bem atuais, hoje é Sexta - feira da Paixão, certo? Sabemos o significado do feriado por força da insistência seja da escola ou da mídia, mas até que ponto vivemos a data como a Igreja espera que aconteça?


Ok, não comemos carne no dia de hoje e...? O que tem isso demais? È uma ótima oportunidade para aquela bacalhoada tão esperada. Considerando que o bacalhau “está pela hora da morte” (nunca entendi bem o significado dessa expressão, mas achei que caberia bem neste texto), essa ocasião é uma justificativa bem plausível para o gasto excessivo com o almoço especial. E domingo tem chocolate... oba!!!!!!

Tirando uma ou outra família (uma ou outra é modo de dizer porque sabemos que elas existem aos montes) que vai à missa todos os domingos e conseguem ver a importância da data, grande parte dos mortais de qualquer religião (inclusive aqueles que se dizem católicos por formação e/ou convicção) repete esses hábitos, se priva da carne sem nem pensar no porquê disso.

Claro que lá no fundo ele sabe que não se come carne porque.... Por que mesmo? Bem, não se come carne vermelha neste dia para relembrar o sacrifício de Cristo. Daí também vem a justificativa das privações a que muitos fiéis se impõem durante a Quaresma. Católica por formação, nunca entendi essa ideia de promessa, sacrifício e afins. Se Jesus é nosso Pai, não ia querer nos ver sofrendo seja por que motivo for. Se Ele nos ajudar a concretizar um projeto não o fará esperando algo em troca. Pelo menos é assim que sinto a religião.

Conta a lenda da minha família que alguns padres se fartam de carnes nobres na Sexta Feira da Paixão. Se isso é verdade ou não, eu não sei. Nunca vi um padre numa churrascaria na Sexta-feira Santa, mas escuto essa história desde que sou criança e quem sou eu para contestar. Digamos que isso seja uma tradição familiar e tradição que é tradição não se contesta.

Embora não se deva questionar uma tradição, sou jornalista e como tal tenho licença poética para questionar o que quer que seja, então: o que aconteceria se eu comesse carne hoje? Seria menos pura? Uma pecadora? Quem pode dizer que dou menos importância à história de Jesus ou sou menos filha Dele só porque me delicio com uma picanha bem gordurosa na Sexta-feira Santa?

Perguntas que vão permanecer sem resposta porque tradições não têm explicação racional, elas se pautam pela subjetividade de cada grupo social, de cada família. É uma questão de convicção e não de lógica.

Pelo sim pelo não, vamos de peixe na hora do almoço.

8 de abr. de 2009

Observações do tempo presente II

Você já reparou como as coisas andam mais aceleradas e o tempo passando rápido demais? Pois, é. Essa é a sensação da maioria das pessoas. Mas nem todas. Em tempos de crise, de demissões em massa, de redução de custos e vacas magérrimas há um grupo de pessoas que tem sentido o tempo passar lentamente.

Pais de família, jovens recém-formados, mulheres independentes (ou tentando ser) e toda sorte de indivíduos em idade ativa com mil e uma responsabilidades e sonhos estão sendo tolhidos de seu direito de fazer a roda do mundo girar e passam dias e noites a espera... de um milagre?!

Quase isso. Essas pessoas esperam um telefonema, um e-mail ou coisa que o valha com uma boa notícia, uma proposta por mais simples que seja, mas que lhes faça respirar mais aliviado, que lhes dê um novo fôlego para prosseguir vivendo.

Tenta-se de tudo: ligar, bater de porta em porta, enviar e-mail de trocentas maneiras diferentes e nada. Nada acontece e os dias seguem sua rotina. Computador, televisão, rua, tarefas domésticas, conversas sem nenhum sentido e a vida corre...

Corre para onde? Será que um dia se chega mesmo à linha de chegada ou volta-se ao ponto de partida? Vira e mexe surge uma ideia, uma entrevista, uma possibilidade que logo se frustra e aí? Faz-se o quê?

De quem é a culpa? Do desempregado? Do governo? Da crise internacional? Não sei as respostas, sei que cada dia fica mais difícil para essas pessoas terem esperança, acreditarem que tudo vai melhorar, que o futuro é promissor porque na verdade, o futuro já chegou e as necessidades não cessam porque o emprego não vem. A criança não deixa de ficar doente, o dente não deixa de doer, as contas não deixam de chegar, mas o contracheque sim.

E é essa dura realidade que desacelera o relógio e acelera a mente, a vontade de que as coisas aconteçam logo, que a crise passe, que as empresas contratem e não olhem a sua idade avançada ou a sua falta de experiência na hora de contratar. Que não façam questão do inglês avançado que você nunca teve oportunidade de fazer, de conhecimentos profundos da informática que você mal conhece nem da pós-graduação que você ainda não teve tempo de fazer.

Sem mais observações por hoje.

6 de abr. de 2009

Observações do tempo presente

Quando eu era adolescente, computador era artigo de luxo presente apenas na casa dos mais abonados, donos de carrões e gordas contas bancárias. Hoje a maioria das casas tem um computador equipado com internet e todos os programas necessários para baixar vídeos, músicas, fotos, jogos e tudo o mais o que se deseja.

Os programas de comunicação são inúmeros e surgem a todo o momento com o objetivo de aproximar as pessoas na esfera virtual. Jovens adultos como eu demoraram um pouco para se adaptar a esse novo mecanismo, mas uma vez acostumados, um abraço!

Agora que essa linguagem faz parte do nosso cotidiano, um dia sem ela é caos na Terra. E aí fica a reflexão: mas como pode isso? Há bem pouco tempo eu nem imaginava o que era um e-mail e agora se não checo os meus pelo menos três vezes ao dia sinto que posso estar perdendo algo muito importante.

O mesmo acontece com o celular, que hoje virou artigo de primeira necessidade para todos os mortais acima dos 10 anos de idade. Quando alguém diz que não tem um celular ou não faz parte dos sites de relacionamento as pessoas estranham, ele é considerado “fora da atualidade”. Mas até que ponto isso é verdade?

Fazendo uma autocrítica, creio que hoje quem consegue se livrar desses mecanismos tecnológicos e levar uma vida longe de tais amarras é mesmo um vanguardista. Esses poucos indivíduos que vencem o tabu da pós-modernidade e se esquivam dos padrões tidos como “antenados” estão um passo a frente de todos nós.

Ao abrir mão da dependência da tecnologia, essas pessoas se permitem viver uma vida mais simples, com mais contato direto com os amigos, conhecidos, colegas e desconhecido. Têm mais tempo para simplesmente não ser encontrado e poder se dedicar a uma boa caminhada ou a leitura de um livro sem que o celular toque incessantemente, sem que alguém possa encontrá-lo com um problema gravíssimo (que geralmente é resolvido em cinco segundos) e furtá-lo daquele instante mágico de uma solidão previamente programada.


O mundo pós-moderno virou novamente uma aldeia e nem se deu conta disso. Uma vez na grande rede de comunicação que se popularizou especialmente no Brasil o indivíduo é colocado em uma vitrine virtual onde todos os seus passos podem ser acompanhados por qualquer pessoa. Seja uma frase colocada no MSN ou uma foto postada no Orkut. Tudo é exposto na internet e a gente se engana dizendo que gosta de privacidade.

Gosta nada... sob o pretexto de querer encontrar e/ou conhecer pessoas, a gente se expõe e fica ali a mercê de fofocas, de mal-entendidos. O fato é que o ser humano, em especial o brasileiro, é um ser gregário por natureza e tudo o que nos proporciona reunir mais e mais pessoas é facilmente adaptado ao nosso cotidiano.

Se isso é bom ou mau eu ainda não sei. Não vim ao mundo para julgar. Já diria Zuenir Ventura que o jornalista está aqui para ser “testemunha do seu tempo” e não para tirar conclusões, prender ou condenar. Sendo assim, recolho-me ao meu papel de observadora da vida e continuo usando esses mecanismos para observar e ser observada. Quem sabe um dia, tanta observação não me leva a algum lugar??

1 de abr. de 2009

Erudito e popular

O povo não gosta de cultura erudita ou não consome por que não lhe é oferecido? Vira e mexe esta questão me ronda a mente. Eterna “pollyana”, sempre preferi acreditar que as rimas pobres do funk e as letras onomatopéicas do axé só fazem tanto sucesso porque têm uma indústria milionária por trás fazendo um trabalho espetacular de divulgação.

E na outra ponta as músicas eruditas com melodias harmoniosas, geniais são consideradas cansativas porque estão sempre associadas a um passado que a juventude, principal consumidora dos produtos culturais industrializados, abomina por completo. Óperas e concertos são programas “para gente velha”, são chatos, maçantes e por aí vai.

Tanto repúdio só tem uma explicação: não se vê orquestras se apresentando no Caldeirão do Huck e muito menos cantores líricos fazendo shows no Domingão do Faustão. O que se dirá então de um clipe musical da V Sinfonia de Beethoven na MTV. Essas cenas parecem um tanto surreais porque não estamos acostumados a elas.

E se não conhecemos outra coisa como escolher entre “o que eu gosto” e “o que eu não gosto”? Assim, seguimos tentando escolher o que é melhor entre o “Créu” e “Festa no Apê”. Acreditamos que essa é a maior expressão do nosso livre arbítrio, da nossa liberdade de opinião sem darmos conta de que se trata de variações do mesmo tema.

Quem define o que é erudito e o que é popular é a mídia, claro, atendendo a interesses mercadológicos, mas esse debate não está em questão no momento. Este post tem o objetivo de falar desse embate entre o erudito e o popular porque algumas questões permanecem sem resposta ao longo dos anos.

Já foi dito aqui que cultura é algo que está entre as pessoas, certo? Música é uma das expressões culturais humanas, certo? A globalização uniu os povos, eliminou as fronteiras culturais, certo? Então onde está escrito que a música clássica só pode ser ouvida por um grupo seleto de europeus ou indivíduos de qualquer nação desde que “sejam estudados”? Por que não é possível encontrarmos uma secretária do lar que adore ouvir Chopin em seu MP3 comprado na promoção das Casas Bahia dividido no carnê em 19 vezes? Ou um doutorando da Harvard ouvir um bom pagode brasileiro em seu carrão último tipo?

A resposta é simples, meus caros. Desde sempre a sociedade cria estereótipos que vão sendo reproduzidos geração após geração sem o menor critério virando uma bola de neve incontrolável. Há alguns anos, zapeando os canais de TV surpreendi-me com uma cena que merece, no mínimo, um pouco de atenção. Um músico se apresentava em algum país aparentemente europeu diante de uma massa entusiasmada.

Homens, mulheres, jovens, adultos, idosos e crianças loiros se acomodavam no meio da rua fosse na calçada, em cima de muros, árvores ou confortáveis cadeiras para assistir aquele espetáculo tão envolvente. Músicas clássicas entoadas por um violino nervoso, vibrante, um músico alegre, sorridente e divertido.

Era André Rieu subvertendo a idéia que temos de um concerto. Apaixonado pela música ele deixava essa paixão transbordar para aqueles que o assistiam e era impossível não se deixar envolver por aquele som. Na época eu ainda nem havia entrado na faculdade ninguém em minha casa tinha o hábito de ouvir músicas clássicas, no entanto, todos fixaram os olhos na TV e se divertiram tanto quanto aqueles felizardos europeus que tinham a sua rua como o palco de um belíssimo espetáculo.

Você deve estar pensando: “ah... mas eram europeus! Outro nível! Isso não daria certo no Brasil”. Engana-se, amigo internauta. Não só seria como é possível. Cidade do interior de São Paulo, São José dos Campos surpreende pelo incentivo à cultura. O Parque Vicentina Aranha volta e meia se apresenta como palco de manifestações culturais diversas.

Em junho de 2008 o referido Parque sediou a apresentação do grupo “De Puro Guapos”. Formado por músicos argentinos, o grupo apresenta tangos e contou com uma educada, participativa e vasta plateia. Assim como no caso europeu, idade e classe social não eram pré-requisitos para assistir ao show oferecido gratuitamente pela prefeitura. Após o evento, cada um retirou a sua cadeira devolvendo-a para o local adequado e saiu do local de forma organizada e civilizada.

Cena estranha para um grupo de brasileiros? Pois é real e eu estava lá para conferir e comprovar a minha tese de que se o chamado “povão” não gosta da cultura considerada “elitizada” é porque não a conhece. Se só lhe são oferecidos quadris rebolativos e refrões pornográficos, fica difícil gostar de algo que fuja disso. Fugir do óbvio e oferecer algo novo que enriqueça o universo cultural do cidadão é dever dos formadores de opinião.