21 de mar. de 2009

Juiz de Fora e a cultura




Em 1909 um grupo de 12 intelectuais entre jornalistas, literatos, homens públicos, profissionais liberais e militantes da cátedra e dos tribunais se uniram em torno de um nobre objetivo.

Ligados às artes e à cultura, esses homens acharam que era necessário criar um órgão capaz de preservar a língua portuguesa. Os objetivos principais eram o culto, a defesa e a sustentação da pureza da língua e a produção intelectual na sua plenitude e variedade.

Visionários e vanguardistas, esses intelectuais mineiros criaram a Academia Mineira de Letras em... Juiz de Fora. Exatamente. No interior de Minas Gerais a cidade, que hoje só aparece no mapa quando algum prefeito é inapto para cometer os habituais crimes políticos e dá as caras em todos os noticiários nacionais, foi palco de movimentos culturais fundamentais para o desenvolvimento da sociedade.

Que a cidade já foi importante no cenário econômico todo mundo sabe, mas a Manchester Mineira é hoje uma vaga lembrança na mente dos meus conterrâneos. É “apenas” história, muitas vezes difícil de acreditar quando nos deparamos com o cenário sócio-econômico atual da cidade.

A cultura, então... essa nem é lembrada pelos nativos da antiga Princesa de Minas. Falar que Juiz de Fora já foi pólo cultural é quase um devaneio para quem vive na cidade atualmente, mas isso é verdade. E – pasmem - se hoje ela já não é mais um pólo cultural, ainda é reconhecida pelos artistas nacionais como um grande centro produtor de cultura.

Mas então, de onde vem esse preconceito com a cultura local? Creio que o grande ponto seja o fato de que fomos ensinados a valorizar o que vem de fora e relegar o que produzimos a segundo plano. Basta ver o que aconteceu com a cantora Ana Carolina.

Nascida e criada em Juiz de Fora, a cantora ficou anos esbanjando seu talento pelos bares e palcos da cidade sem qualquer reconhecimento da mídia ou mesmo do público. Bastou a moça aparecer em programas de auditório de nível nacional para tudo que é juizforano bater no peito e dizer: “ela é da minha cidade!”.


O que acontece na cidade é uma espécie de xenofobismo ao contrário. Ao invés de atacarmos o que vem de fora, idolatramos, exaltamos como se tivesse um valor incontestável. Tudo o que é produzido no eixo Rio - São Paulo chega para os juizforanos com status de incrível, basta prestarmos atenção na diferença de público que existe entre os eventos nacionais e os locais.

Não estou aqui atirando pedra no que vem de fora, ao contrário, também sou fã dos artistas de reconhecimento nacional. Minha crítica é e sempre foi o preconceito que temos com o que é nosso. Pagamos preços absurdos para um show de um artista às vezes nem está mais entre os “top 10” das rádios, mas regulamos gastos para a apresentação daquela banda incrível, que tem músicas que nos tocam muito mais porque ele é da terra.

Mas se ele cresce, tem música na trilha sonora da novela, pronto. Vira celebridade e orgulho dos juizforanos. Aposta quanto que Josy Oliveira, que já tinha talento antes, vai voltar para a terrinha super badalada, dando entrevista para todos os veículos de comunicação da cidade e que os shows dela ficarão abarrotados quando ela sair do BBB?

Acho que está na hora de revermos nossos conceitos e prestarmos mais atenção ao que nos rodeia. A Juiz de Fora do século XXI está longe da efervescência cultural dos anos 60, dos movimentos literários, de O Pasquim e companhia, mas há muita coisa boa sendo produzida por aqui, basta sabermos procurar. Quer exemplos?

A banda Operação Tequila, a cantora Myllena, Bruno Nogueira. Artistas de outras artes, fora da música? Gerson Guedes, Heloiza Curzio, Marcus Marchiori, Márcia Falabella... e por aí vai...




Provavelmente, muitos habitantes de Juiz de Fora nunca ouviram falar desses nomes e nem fazem ideia do que eles representam para as artes locais, mas são artistas de primeira linha, com tanto talento quanto aqueles que você vê em revistas de celebridades.

A arte não tem fronteiras e não há lei que determine que cidades do interior não possam produzir talentos. E sem essa de que Juiz de Fora não tem cultura. Onde quer que haja um povo a cultura está presente. Nem melhor nem pior do que nos grandes conglomerados, apenas diferente. E é isso que faz do Brasil uma nação tão rica.