4 de jun. de 2009

Acidente com avião

Se o título deste post lhe atraiu porque você está buscando alguma novidade sobre o acidente com o airbus, perdeu a viagem. Sim, falaremos do acidente neste post (quase uma reestreia dado o longo período de afastamento), mas sob uma outra perspectiva.

Não me interessa saber quantas horas de voo tinham piloto e co-piloto nem mesmo a história de vida de cada uma das vítimas. Antes que me chamem de insensível, acho que existe algo muito mais grave aí que merece ser comentado.

Nunca concordei com essa postura dos jornalistas de esmiuçar cada detalhe emocional de uma tragédia dessa proporção. Depois que passei pela faculdade, então, a revolta é ainda maior. Aprendi no curso que acabo de concluir que o jornalista deve se preocupar com o seu público antes de qualquer coisa. E isso é completamente esquecido quando se coloca no ar entrevistas com parentes de vítimas esse fator não é levado em conta.

Mais de duas centenas de pessoas morreram num acidente de proporções internacionais e a mídia convencional se preocupa em relatar o último contato que esses indivíduos fizeram com suas famílias. Se nenhuma informação sobre o que realmente aconteceu pode ser divulgada ainda, então, que sejamos honestos com o público e esperemos que os fatos possam ser transmitidos com dignidade, oras!


Por mais cruel que isso possa parecer, essas histórias não são notícia, só servem para engambelar o telespectador/leitor/ouvinte/internauta enquanto nada se comprova.A dor alheia não pode ser atrativo para vender jornal. E o erro aí não está só nos jornalistas, mas também no público, afinal, se esse tipo de situação se repete tragédia após tragédia é porque vende mesmo.

Infelizmente, essa é a realidade e não nos cabe aqui descobrir “quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha”, o fato é que é preciso mudar essa cultura de querer saber tudo sobre esses acidentes de comoção nacional seja pelo número de vítimas ou pela brutalidade da situação (ou vocês já se esqueceram do que foi feito com Ana Carolina Jatobá à época do assassinato de sua filha Isabella?).

Ao se entreter com essas histórias que são, sim, comoventes e capazes de arrancar lágrimas, as pessoas se esquecem de que algo de grave por trás desse acidente. Um avião desse porte não cai à toa. E a falha foi de quem? Da empresa de aviação francesa? Do piloto? Foi um atentado terrorista como já se especulou?

Essas questões não podem ser deixadas de lado. Isso é o que verdadeiramente interessa para a sociedade, para que esta mesma possa cobrar atitudes a quem de direito e evitar que novas famílias sofram o flagelo de uma perda tão brutal.

Ao invés de invadir o momento de fragilidade dessas famílias, tornando-as mercadorias na TV, internet e nos jornais, os repórteres deveriam se ocupar de procurar possíveis causas desse acidente, usar seu poder de persuasão para conseguir que fontes seguras lhe passem informações oficiais.

E o público, que não é tão passivo quanto se imagina, deve fazer um exercício de solidariedade e, ao invés de querer mexendo na ferida alheia, deve fazer um exercício de altruísmo e solidariedade. Que tal inverter os papéis e imaginar como se sentiria caso estivessem naquele avião seus pais, seu filho ou o amor de sua vida?