3 de nov. de 2009

Democracia virtual

Um amigo está produzindo uma matéria sobre o “Marco Regulatório da Internet” que começou a ser debatido na última quinta-feira, 30 de outubro. Trata-se de uma iniciativa do Ministério da Justiça para regular o conteúdo veiculado pela internet, definindo os direitos e responsabilidades dos usuários da rede. Ou, conforme está no site destinado ao assunto: “(i) definir diretrizes claras para a ação governamental – tanto no que diz respeito à regulação quanto no que tange a formulação de políticas públicas para a Internet; (ii) reconhecer, proteger e regulamentar direitos fundamentais dos indivíduos, bem como estabelecer com clareza a delimitação da responsabilidade civil daqueles que atuam na rede como prestadores de serviço; e (iii) estabelecer balizas jurídicas que permitam ao judiciário atuar com precisão e de forma fundamentada para a resolução de conflitos envolvendo a utilização da rede. Alguns temas, como direitos autorais, comunicação de massa e questões criminais, estarão fora deste debate, por já contarem com discussões estruturadas.”

A discussão que vai nortear a nova legislação não poderia se dar em outro ambiente que não o digital. E assim está sendo feito. Através do sítio divulgado acima, o Governo Federal abre espaço para que os cidadãos brasileiros deem a sua opinião acerca do assunto. Para isso, o espaço ficará aberto por 45 dias.

Bem, mas voltando ao pedido de ajuda do meu amigo e futuro jornalista Gabriel Miranda, minha primeira reação foi “não tenho opinião formada sobre o assunto.” Tendo a curiosidade nas entranhas, me pus a pesquisar sobre o tema e eis que consegui organizar meus pensamentos, crenças e valores e responder ao intrépido aspirante a jornalista.

Eu sou a favor de uma regulação na internet, sim! Embora seja uma permanente entusiasta da liberdade de expressão, acredito que esse conceito foi subvertido no espaço virtual. Muita informação equivocada é jogada na rede todos os dias, sem nenhum critério e quem perde com isso é o internauta, ou seja, a sociedade, de uma forma geral.

Uma pesquisa rápida no Google, por exemplo, resulta em centenas, milhares de informações nada credíveis e até contraditórias. Isso deixa o internauta confuso, sem saber em que acreditar. Defendo até a morte o direito de todos os cidadãos expressarem a sua opinião. Seja sobre um fato já devidamente apurado por um profissional preparado para isso, ou seja, um jornalista, ou sobre comportamentos, emoções etc. desde que fique claro, o caráter subjetivo desse tipo de "texto digital".

Se mesmo com apuração adequada e comprometimento com a verdade corremos o risco de divulgar inverdades por má fé de fontes, distração ou informações dúbias que nos chegam todos os dias imagina quando uma informação é divulgada por um leigo como se fosse uma verdade absoluta....

É preciso entendermos que a internet é um meio de comunicação, as pessoas que acessam um site, qualquer que seja ele, o faz buscando informação. Divulgar uma mentira, uma inverdade seja qual for a intenção, é uma atitude criminosa porque pode comprometer a vida de uma pessoa para sempre (quem não lembra do caso da Escola Base em que um delegado divulgou para imprensa dados colhidos dos depoimentos, sem averiguar os fatos adequadamente, fazendo com que vários veículos entendessem que os donos da escola eram pedófilos e contavam com o apoio de seus funcionários para praticar os atos libidinosos com as crianças?).

E por falar em pedofilia, outro fator a ser considerado, é justamente a presença de sites destinados a esse e outros tipos de crimes e comportamentos maléficos à saúde como anorexia e bulemia, que passam a ser supervalorizados e entendidos como corretos, normais e dignos, dada à apologia feita a eles na grande rede mundial.

Informação, para ter credibilidade, requer apuração, objetividade, imparcialidade. Já os blogs, são diários virtuais e, como tal, são essencialmente subjetivos. Sua função social é, apenas expressar opiniões, impressões pessoais sobre determinado fato ou assunto. Jamais devem ser entendidos como veículos de informação. O erro está quando o blogueiro assume a persona do jornalista e escreve um texto com pretensões informativas. Aquilo passa a ser assumido como verdade e as pessoas acreditam em uma "informação" que pode comprometer as suas vidas de alguma maneira. Mesmo quando um jornalista, como no meu caso, se propõe a criar um blog, tem que ficar claro que o que está ali é uma visão subjetiva do mundo que nos cerca. A responsabilidade pelo que está ali é minha e de mais ninguém. Seja lá o que eu escrever, o provedor nada tem a ver com isso.

Responsabilizá-lo pelo que é escrito é cercear a liberdade de expressão. Cada blogueiro deve ter consciência do que está escrevendo. Por isso, defendo o fim do anonimato na rede, isso favorece a impunidade. Cada um que se aventurar em mares virtuais deve assinar seus textos, dar a cara à tapa. Se tem coragem para se expressar, tem que ter coragem para assumir o que escreve. Vale a máxima: "quem não deve não teme".

Resumindo, eu acho que é preciso haver um controle sob o que é produzido e divulgado na internet como informação, ou seja, nos sites e/ou blogs que se queira informativo. No caso dos blogs genuínos, ou seja, que expressem opiniões e deixem isso bem claro, a responsabilidade é do autor dos textos. O único controle que considero válido, nesse caso, é esse que acabei de citar, em relação ao anonimato.

Espero que este post consiga esclarecer o nobre colega e que cada internauta que dedique ou já tenha dedicado alguns minutos do seu precioso tempo à leitura do Bastidores da Cultura entenda que este é um blog genuíno. Nada do que está aqui é incontestável. A ideia desta jornalista que vos escreve é, justamente, gerar discussões, debates e apresentar-lhe uma outra visão sobre os fatos.

Até a próxima!

15 de ago. de 2009

O Brasil está gordo

Assistindo ao Globo Repórter da última sexta-feira fiquei com uma indagação: em que momento perdemos a medida da dose na luta desenfreada por belas formas físicas? Até que ponto compensa passar horas e horas sem comer, se matar na academia, deixando o convívio familiar, a reunião com os amigos em segundo plano?

Jovem adulta em início de carreira, pensando em constituir família e em eterna luta contra a balança, confesso que fiquei um tanto chocada ao ver crianças muito acima do seu peso ideal terem que aprender a brincar para queimar as calorias ingeridas em horas a fio diante da tela do computador ou do videogame. Brasileirinhos que não estavam acostumados a correr, pular corda ou jogar bola só incorporaram esses hábitos agora, depois da recomendação dos médicos.

Nossas crianças não sabem mais brincar e os pais não dedicam mais seu tempo para ensinar o bem que frutas, verduras e legumes fazem no organismo. E de quem é a culpa? Fácil jogar o peso nas largas e calejadas costas da sociedade, mas quem forma a sociedade? Mesmo que você esteja querendo fingir que não, você sabe exatamente a resposta. A sociedade somos nós, homens e mulheres que se deixam seduzir por um ideal de beleza que é praticamente inatingível.

Longe de ter o corpo perfeito, desde a adolescência vivo em guerra com a balança, mas com a consciência tranquila de que ingerir alimentos saudáveis nunca foi um sacrifico. Desde criança estou acostumada a uma alimentação rica em fibras e vitaminas. O grande problema é que o açúcar é muito sedutor e sabe usar as armas certas para me conquistar. E o que me trouxe a esse post foi o fato de as brincadeiras aparecerem como recomendações médicas. Assim como meu médico me ensina a ministrar um novo medicamento, os dessas crianças as ensinam a brincar (!).

A matéria de ontem fez com que eu me sentisse vivendo em um mundo surreal onde as crianças de hoje vivem em um mundo sem fantasias. Na minha época uma criança gordinha era só uma criança gordinha, que ia chegar ao peso certo quando crescesse. Hoje, uma criança gordinha é um flagelo social, um sinal de descaso familiar, motivo de escárnio na escola e nas ruas das cidades. E diante desse panorama cruel, passam a ter que conviver desde cedo com o ambiente neurótico das academias, crescem com traumas e preconceitos de si mesmas. Dramas que eram vividos na adolescência e/ou na vida adulta surgem mais cedo e o sentimento de estar “fora do grupo” já atinge os que têm menos de 11 anos de idade.

Favorável a uma dieta saudável desde cedo, acredito que é preciso repensar toda a alimentação do mundo moderno, não só aquela que vai à mesa, como aquela que sustenta a alma. É preciso equilíbrio e bom senso para chegar a uma educação alimentar de qualidade e generosidade e humildade para lidar com as diferenças e respeitar o drama alheio. Ser gordo em um mundo onde a magreza é enaltecida é algo que vai muito além da balança e atinge um número muito maior do que se imagina.

Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2007, 13% dos brasileiros adultos estão obesos, outros 43,3% estão com excesso de peso, o que significa que mais da metade da população nacional não está dentro do limite considerável saudável, mesmo com todos os avanços na área de endocrinologia. Esse é um indicativo de que há uma falha, um ruído na comunicação entre a população e os médicos, e, infelizmente, esse ruído é a mídia que dia após dia coloca a magreza como sinônimo de sucesso pessoal e profissional.

Está na hora de repensarmos essa cultura do corpo e usarmos os resultados das pesquisas científicas relacionadas à alimentação como nossos aliados e não como inimigos da nossa saúde. Caso contrário, vamos engrossar as estatísticas (que também já estão gordas) dos distúrbios alimentares graves como anorexia e bulimia.

Fazer isso só depende de nós, basta olharmos com atenção para o que estamos comendo e modificar nossos hábitos para garantir uma vida saudável e bem mais leve, em todos os sentidos. Lembrando sempre que, mais do que uma preocupação estética, estar com o peso ideal é uma necessidade para o bom funcionamento do organismo.

12 de ago. de 2009

Algumas palavrinhas sobre o amor

É interessante como as pessoas passam a vida procurando um amor. Mesmo aquelas que são veementes ao afirmar o contrário estão sempre à procura do par perfeito. Aquela pessoa que vai aparecer de repente e livrá-las de todo o mal do mundo, como se não soubessem que o segredo está mesmo dentro da gente.

As mulheres são as maiores vítimas. Viciadas em seriados e comédias românticas norte-americanas elas passam todas as cenas se imaginando no lugar daquela mocinha (que pode ser feia e desengonçada ou com uma agenda de trabalho superlotada) que encontra o grande amor da sua vida numa lavanderia, no meio da rua ou numa livraria qualquer...

E entre um sonho e outro encontram um rapaz comum, com uma vida comum e com pretensões comuns e vão descartando-os um a um. “Ele era muito machista”. “Ele não liga para mim”. “Ele não gosta das mesmas coisas do que eu” e por aí vai... Sem se darem conta elas vão desperdiçando a chance de serem felizes simplesmente porque fixam um modelo inatingível como o “ideal” e aí a desilusão é certa.

Meninas, a vida real é feita de emoções. Ele nem sempre é lindo o suficiente, inteligente o suficiente ou bom de cama o suficiente. Ou é. Mas isso não é todo dia, nem toda hora. Assim como você, ele acorda com mau-hálito, ele escorrega na escolha da roupa e fala besteiras. Ele não é romântico todo o tempo. E você também não é. Mas o amor está longe de ser o paraíso na Terra.

Um amor de verdade envolve diferenças, TPM, falta de dinheiro, desemprego, famílias interferindo, discussões. O que diferencia as histórias é a forma como elas são vividas. Se você põe leveza e discernimento, o sucesso é garantido. Mas nem sempre isso é fácil. Vez ou outra um pesa a mão na crítica e um motivo imbecil pode levar a uma discussão interminável. E para quê isso? Para ela poder ligar para as amigas e contar o quanto ele mau e ele justificar o porre que está louco para tomar.

Bobagem!

Amor tem que ser suave. Tem que dar mais prazer (em todos os sentidos) do que dor de cabeça. Tem que dar saudade, tem que ter vontade de tê-lo por perto o tempo todo e quando ele está perto tem que querer mais. Tem que dar vontade engoli-lo para ser bom.

Amor é mais do que um desejo louco, uma irresistível atração fatal. É isso também. Para amar você tem que ser capaz de fazer loucuras pelo seu amor, sim! Tem que sentir frio na barriga a cada encontro, mesmo depois de anos de namoro. Tem que surpreendê-lo, tem que surpreender a si mesma, tem que manter aceso o fogo do desejo, tem que ter tesão.

Amor de verdade tem que ter cumplicidade, tem que ter respeito, tem que ter carinho, tem que ter ombro amigo. Ele tem que ser a primeira pessoa que você pensa quando algo bom acontece e a única que você quer ter por perto quando o mundo parece cinza demais. Ele tem que ser o seu arco-íris, a sua montanha-russa, a sua gargalhada mais gostosa...

Amor de verdade tem que perder a censura, tem que ter entrega total, tem que ter individualidade, planos em comum...

Amor de verdade tem que ter confidências de madrugada, noites a fio contando casos, conversas filosóficas sobre o futuro da humanidade, divisão de sonhos, projetos de uma vida a dois, passeio refrescante no parque.

Quando se ama de verdade um não deixa o outro se entregar a nada que seja destrutivo. Um sacode o outro mesmo sob forte resistência porque amar é lutar pelo outro, é querer o bem, é saber reconhecer momentos de fraqueza sem julgar ou condenar.

Quando se ama de verdade o pior momento da vida passa a ter algum sentido e nada é capaz de nos derrotar de verdade. O simples estar junto se transforma num grande acontecimento e a partilha de todos os momentos é a grande alegria da vida.

O verdadeiro amor é mais do que se pode sonhar, mais do que diz o cinema ou a TV. O verdadeiro amor é estar junto mesmo quando está longe e querer que o longe nunca mais exista. O verdadeiro amor é não ter vergonha de expor suas fraquezas, de deixar à mostra o seu “lado B” e entender que coisas ruins são tão importantes quanto as boas para nos fazer crescer, amadurecer.

O amor de verdade inclui no pacote da vida doses extra de felicidade, de gargalhadas espontâneas, de lágrimas de alegria. Por isso, meninas, abram-se ao amor, exijam menos de si mesma e de seus parceiros. Olhem para o lado e respeitem a pessoa incrível que têm do lado, vivam, surpreendam, admirem, elogiem. Deixem a escuridão, as sombras, as críticas para o resto do mundo! Amar é bom, é saudável e é um dos pilares que garantem o sucesso em nossa vida!

Quer um conselho? Ame e deixe-se amar! Vivendo um amor de verdade, daqueles com "A" maiúsculo, o desemprego, as contas para pagar, os quilos a mais, tudo fica muito, muito, muito mais simples.

Um bom amor a todos...

30 de jun. de 2009

Passado e presente

Por força de um convite para participar de um projeto de pesquisa para um doutorado em educação me vejo mergulhada em notícias da primeira década do século XXI em Juiz de Fora e qual não é a minha surpresa ao perceber que quase nada mudou de lá pra cá.

Não fosse o meu advento no mundo virtual que me permite ler o jornal local via internet eu diria que tudo continua, praticamente, como há dez anos. As notícias são basicamente as mesmas: violência, falcatruas políticas, greves, protestos, campanhas políticas e por aí vai.

Entre os personagens da política (local e nacional) também não há muitas novidades. São sempre as mesmas caras, as mesmas “figurinhas carimbadas” que há décadas comandam o País sempre se auto-definindo como a “salvação da lavoura”. Essa lavoura arcaica que não consegue se renovar, e se prende ao que já está aí por medo, comodismo ou – o que é pior – sem nem perceber que está repetindo padrões falidos.

E aí, sem aprofundar na questão, considerando o meu pouco preparo para análises mais densas, me fica uma questão: será que em dez anos o país não mudou nada? Será que não conseguimos evoluir nem um “cadinho”? Os fatos se repetem, a forma de noticiá-lo se repete...

O que acontece então? Em quem colocar a culpa? Numa época em que a informação circula à velocidade da luz, em que as novidades chegam a todo o momento e a sociedade se diz pós – moderna como é possível essa repetição?

Se os personagens insistem em ser protagonistas da mesma cena sempre, já não seria hora de substituir o elenco, escalar novos atores para dar gás a essa trama? Acredito nos cidadãos brasileiros como diretores dessa história e me assusta que pouco esteja sendo feito para alavanca o ibope dessa novela social.

29 de jun. de 2009

Mais sobre Michael Jackson


O fim de semana foi marcado por uma enxurrada de notícias sobre o rei do pop, Michael Jackson morreu como viveu a vida inteira: em meio a uma série de polêmicas, em circunstâncias que deixam muitas dúvidas.

Assim foi a vida de MJ desde que se tornou uma celebridade, ainda criança. Àquela época os boatos eram sobre os maus tratos sofridos pelos pequenos Jackson’s e o suposto abuso sexual por parte do pai. Depois vieram a homossexualidade, a mudança de cor, a acusação de pedofilia e por aí vai...

Há muito tempo longe dos holofotes ele voltou a ser notícia quando partiu dessa para melhor e aí choveram notícias sobre o astro. Cada veículo com uma história diferente, cada canal de TV com uma novidade, um depoimento de vizinho, empregada, cabeleireira e toda sorte de pessoas que por ventura tenham cruzado a mesma calçada com o Michael Jackson.

Com um estilo completamente diferente de tudo o que já tinha sido visto até sua estreia diante das câmeras, MJ revolucionou a maneira de fazer videoclipes no mundo, fez de cada um uma superprodução com direito a diretores de Hollywood. E mostrou ao mundo uma dança inigualável que, por mais que já tenha sido copiada à exaustão, jamais terá comparação. Sim, "não haverá outro Michael como ele", com disse o jurado do American Idol, mas..

Como todo gênio, Jackson tinha lá suas excentricidades. Aos 50 anos gostava de brincar e se comportar como uma criança numa busca desesperada pela infância que lhe fora roubada pela ambição exacerbada de seus pais. Aos cinco anos trabalhava como adulto, amealhou uma fortuna enorme que buscava usufruir do jeito que mais gostava: brincando.

Se ele era inocente de verdade ou não, não posso dizer, não o conheci pessoalmente, não sei o que se passava em seu dia-a-dia, mas uma coisa é fato: algo no seu passado afetou seu estado emocional de tal forma que, assim como seu personagem favorito, Peter Pan, Michael se recusou a crescer e entre cirurgias plásticas, coquetéis de remédios e um figurino brilhante e espalhafatoso ele conseguiu viver no mundo mágico que construíra para si.

Penso que a notícia de sua morte está sendo explorada em demasia, mas há algo por trás dessa história que merecia maior destaque. O que me fica é um questionamento sobre o trabalho infantil que não é condenado: o dos pequenos artistas. Essas crianças que enfrentam câmeras, luzes, que decoram textos e fazem graça diante das telas sem saberem ao certo o que está lhes acontecendo.

Recentemente, a Justiça entrou em cena para defender os direitos da pequena Maisa – a garota de seis anos que trabalhava com Sílvio Santos – porque devido ao seu sucesso com o público, o apresentador se viu no direito de expor a menina a situações constrangedoras.

Será que quando Michael tinha a idade de Maisa alguém pensou que quando crescesse ele se tornaria um adulto problemático com sérios problemas de identidade e de aceitação da própria imagem? E o que será das mentes de outras crianças que experimentaram o sucesso desde cedo ou que brilharam quando pequenos e depois tiveram que enfrentar o ostracismo?

Creio que mais do que lamentar a morte do ídolo pop, é preciso aproveitar o gancho e repensar essas questões. Os programas de entrevista têm aí uma grande pauta a explorar. Fica a dica!

*Foto retirada do site da rádio Cultural Distrital FM

18 de jun. de 2009

Sim, nós temos diploma!

Depois da notícia que chocou o universo jornalístico na tarde de ontem, minha primeira reação foi de revolta. Passado o susto, ficou... a revolta. Se esta construção lhe parece estranha, eu explico.

Num primeiro momento revoltei-me com o fim da exigência do diploma, depois o que me revoltou foram os argumentos usados para justificar tal ato. Ok, o diploma não é garantia de excelência profissional e muitos dos profissionais que admiramos e respeitamos hoje não tinham o bendito registro, mas... ele se tornou obrigatório e as regras do jogo mudaram.

O jornalismo que era função opinativa passou a ter caráter informativo, o que mudou toda a estrutura de construção de uma notícia. Concordo que a maior escola é a prática (benditos sejam os meus estágios no meu processo de aprendizado), no entanto, se não soubesse o mínimo de teoria sobre o fazer jornalístico, não teria me mantido numa redação nem como aprendiz.

Disseram os defensores do projeto que a exigência do diploma fere os direitos da liberdade de opinião e informação. A meu ver, essas nunca foram tolhidas, afinal, as seções opinativas jamais morreram (nem devem morrer posto que fazem o elo entre o indivíduo e o mundo que o cerca), em especial nos dias de hoje em que a interatividade é a tônica de todas as profissões.

Se qualquer cidadão vai poder exercer a profissão de jornalista, então, que entendam aquilo que os ministros parecem não compreender: as principais regras do jornalismo são a objetividade e a IMPARCIALIDADE. Ou seja, não exigir o diploma fere um princípio básico da profissão e não o direito de liberdade de expressão. Textos opinativos, escritos em primeira pessoa,como este que você está lendo, têm seus espaços garantidos nas publicações impressas onde os autores assinam artigos e/ou crônicas como colaboradores. Logo, esse argumento é falho.

Quanto ao fato de comparar jornalista à artista, bem... acho que dispensa comentários. Penso ser clara a diferença entre uma coisa e outra. Será que o Supremo Tribunal Federal acredita que a Fátima Bernardes vai estrelar a próxima novela das oito fazendo par romântico com o William Bonner?


Apesar de toda a revolta, acredito que esse não será o fim das faculdades nem do diploma. Creio que as faculdades terão que se repensar e o diploma vai começar a ser um diferencial para o profissional. Prefiro (e preciso) acreditar que os donos de empresas jornalísticas de qualidade não vão colocar o bolso acima da idoneidade de seus veículos e, sendo assim, não se arriscarão a colocar seus jornais, revistas, rádios, sites e tv’s nas mãos de pessoas despreparadas.

Ok, ok, ok. Confesso meu romantismo, mas eu ainda faço parte daquele seleto grupo de pessoas que ainda acredita que o bem vence o mal no final e que tudo tem o lado bom. Talvez isso seja culpa dos inúmeros desenhos animados da década de 80 que assisti ou às incansáveis vezes em que li (e assisti) a história de Pollyana, a órfazinha loira que transformou a vida das pessoas no pequeno povoado em que vivia sua amarga tia.

Voltando à realidade e dando certa dose de realismo ao meu discurso, admito que as faculdades têm as suas falhas e que nem sempre formam profissionais de qualidade, mas não é justo que as regras do jogo sejam alteradas tão drasticamente por conta de maus jogadores. Se for para ser assim, então, acaba logo com o Congresso!

4 de jun. de 2009

Acidente com avião

Se o título deste post lhe atraiu porque você está buscando alguma novidade sobre o acidente com o airbus, perdeu a viagem. Sim, falaremos do acidente neste post (quase uma reestreia dado o longo período de afastamento), mas sob uma outra perspectiva.

Não me interessa saber quantas horas de voo tinham piloto e co-piloto nem mesmo a história de vida de cada uma das vítimas. Antes que me chamem de insensível, acho que existe algo muito mais grave aí que merece ser comentado.

Nunca concordei com essa postura dos jornalistas de esmiuçar cada detalhe emocional de uma tragédia dessa proporção. Depois que passei pela faculdade, então, a revolta é ainda maior. Aprendi no curso que acabo de concluir que o jornalista deve se preocupar com o seu público antes de qualquer coisa. E isso é completamente esquecido quando se coloca no ar entrevistas com parentes de vítimas esse fator não é levado em conta.

Mais de duas centenas de pessoas morreram num acidente de proporções internacionais e a mídia convencional se preocupa em relatar o último contato que esses indivíduos fizeram com suas famílias. Se nenhuma informação sobre o que realmente aconteceu pode ser divulgada ainda, então, que sejamos honestos com o público e esperemos que os fatos possam ser transmitidos com dignidade, oras!


Por mais cruel que isso possa parecer, essas histórias não são notícia, só servem para engambelar o telespectador/leitor/ouvinte/internauta enquanto nada se comprova.A dor alheia não pode ser atrativo para vender jornal. E o erro aí não está só nos jornalistas, mas também no público, afinal, se esse tipo de situação se repete tragédia após tragédia é porque vende mesmo.

Infelizmente, essa é a realidade e não nos cabe aqui descobrir “quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha”, o fato é que é preciso mudar essa cultura de querer saber tudo sobre esses acidentes de comoção nacional seja pelo número de vítimas ou pela brutalidade da situação (ou vocês já se esqueceram do que foi feito com Ana Carolina Jatobá à época do assassinato de sua filha Isabella?).

Ao se entreter com essas histórias que são, sim, comoventes e capazes de arrancar lágrimas, as pessoas se esquecem de que algo de grave por trás desse acidente. Um avião desse porte não cai à toa. E a falha foi de quem? Da empresa de aviação francesa? Do piloto? Foi um atentado terrorista como já se especulou?

Essas questões não podem ser deixadas de lado. Isso é o que verdadeiramente interessa para a sociedade, para que esta mesma possa cobrar atitudes a quem de direito e evitar que novas famílias sofram o flagelo de uma perda tão brutal.

Ao invés de invadir o momento de fragilidade dessas famílias, tornando-as mercadorias na TV, internet e nos jornais, os repórteres deveriam se ocupar de procurar possíveis causas desse acidente, usar seu poder de persuasão para conseguir que fontes seguras lhe passem informações oficiais.

E o público, que não é tão passivo quanto se imagina, deve fazer um exercício de solidariedade e, ao invés de querer mexendo na ferida alheia, deve fazer um exercício de altruísmo e solidariedade. Que tal inverter os papéis e imaginar como se sentiria caso estivessem naquele avião seus pais, seu filho ou o amor de sua vida?

28 de abr. de 2009

Sabedoria de uma boa sogra

É, inventaram mais uma data a ser comemorada. Talvez ela até já exista há muito tempo, mas quase ninguém sabe que hoje, 28 de abril, é o Dia da Sogra. É isso mesmo, elas têm um dia só para elas. Só soube disso no ano passado quando fui escalada para fazer uma matéria sobre o tema.

Revisitando o assunto um ano depois, não posso deixar de lembrar de uma personagem muito interessante. Algumas noras deram o tom da minha matéria, sempre muito delicadas, cheias de cuidados para não magoarem as mães de seus amados, elas foram generosas nos elogios e bastantes suaves nas críticas, no entanto, eis que de repente veio uma revelação carregada de sinceridade e verdade: > “as sogras são muito chatas e implicantes".

A autora da frase categórica (e que provavelmente estava engasgada na goela de muitas noras entrevistadas) é a dona Terezinha Andrade (foto abaixo), de 83 anos. Sogra, naturalmente. Jurando que não tem do que reclamar de seus genros e noras, dona Terezinha usa de sua experiência para analisar a situação que, para ela, não passa de mera falta de compreensão por parte de suas companheiras na função de sogra.


"As mães precisam entender que os (as) filhos (as) precisam do amparo de uma esposa (ou marido), elas já estão mais para lá do que para cá, não vão estar sempre ao lado deles para cuidar, zelar, enfim...” E é mais ou menos por aí mesmo. A maior parte das reclamações das noras parte da falta de respeito à individualidade do casal.

Algumas mães querem competir o tempo todo com a nova figura feminina na vida de seus filhos e acabam exagerando na dose. No afã de mostrar o quão especiais e eficientes na tarefa de cuidar das suas crias, elas acabam se metendo demais na relação do casal e daí vêm os conflitos que tornam a relação insustentável (porque, convenhamos, algumas noras também não nada fáceis e adooooram colocar pilha nessa briga).

Mais uma vez, são os cabelos brancos de dona Terezinha quem dizem a verdade sobre essa história. “O que mais me cativa na minha nora é jeito dela. Ela é educada, delicada e faz meu filho feliz. Isso é o que mais me interessa”. Com esse pensamento, muita sogra por aí economizaria energia e desgaste emocional na hora de lidar com o novo membro da família.

Mas seja qual for a receita para o bom relacionamento, uma coisa é certa: essas duas
mulheres têm que entender que o homem que "disputam" as ama com a mesma intensidade, o que muda é a forma do amor. Não há como comparar as duas coisas, porque o sentimento pode ser o mesmo, mas a forma que ele se manifesta é bem diferente e o marido-filho sabe bem a diferença entre essas manifestações.

E feliz dia a todas as sogras (inclusive a minha)!

25 de abr. de 2009

“Tão diferente daquilo que parecia”

A frase acima é um dos versos da canção I dreamed a dream do musical Os Miseráveis. A música virou mania na Internet graças a um programa de talentos britânico (uma espécie de Ídolos em que os jurados não poupam críticas deselegantes aos participantes). O tal programa revelou ao mundo uma escocesa que mexeu com a cabeça da mídia internacional.

Fenômeno mais recente na Internet, a cantora amadora Susan Boyle virou notícia em todos os veículos de comunicação. Isso seria ótimo se o motivo fosse a sua maravilhosa e emocionante voz, mas não é. O que fez de Susan um destaque foi a sua aparência.

Claro, em um mundo focado em valores superficiais onde vale mais um rosto bonito e um corpo bem moldado do que um caráter sólido ou um talento nato, a jovem senhora escocesa de 47 anos, que sonhava em participar de um concurso de talentos britânicos só poderia mesmo chamar a atenção por sua aparência.

Um pouco acima do peso, com os cabelos recém-tingidos e um guarda roupa que pode ser considerado excêntrico agora que ela é celebridade (nos tempos de ilustre desconhecida, a cantora era considerada brega mesmo), Susan Boyle surpreendeu os jurados do Britain’s Got Talent ao entoar o tema do musical Os Miseráveis.

E surpreendeu por quê? Simples, o mundo pós-moderno não espera muito de uma pessoa com tais características físicas, mas Susan mostrou justamente o contrário. Embora inexperiente, seu talento é nato e a música flui com naturalidade de suas cordas vocais, dizem que até arrancou lágrimas da plateia do tal show de talentos.

Seja como for, o que impressiona além da velocidade com que o vídeo se espalhou pelo mundo (já foi assistido por mais de 100 milhões de pessoas), é o nível das notícias divulgadas sobre o novo fenômeno pop. Digitando o nome Susan Boyle no Google (sempre ele) você encontra mais de 16 mil páginas com toda sorte de análises sobre o fenômeno que ela representa.

Obviamente não pesquisei as 16 mil, mas de curiosidade, bisbilhotei algumas e qual não foi o meu espanto ao perceber que em nenhuma dessas tinha alguma entrevista com personagem principal do furdunço que se instalou na mídia mundial. É, analisa-se o seu estilo, que já está até sendo considerado fashion, falam de seu cabelo, de sua aparência, da proposta para fazer um vídeo pornô e até de seu talento musical.

Mas peraí: vídeo pornô??? É isso mesmo! Ela foi convidada e a proposta, segundo o site que eu visitei (e prefiro nem divulgar o nome dado o nível baixo da notícia) teria sido oferecido um milhão de dólares pela participação da cantora no tal filme. O pior de tudo dessa notícia foi a fala atribuída a um representante da produtora do filme: “Além disso, depois de 47 anos de virgindade, desconfio que a Susan também deve estar ansiosa por pôr termo a essa situação mal possa”.

Pois, é caro internauta, por mais esdrúxulo que isso possa parecer, é exatamente assim que está escrito na página da Internet que traz a seguinte manchete: “Um milhão pela virgindade de Susan Boyle, a estrela do programa Britain’s Got Talent”. Então é assim, a mulher vai lá, dá literalmente um show, mostra um vozeirão de dar inveja em muito profissional por aí e o que se comenta é que “a velha, gorda, feia e virgem” foi convidada para fazer filme pornô.

Tem certas coisas que não dá para aceitar. E onde está a fala de Susan Boyle? O que essa mulher está pensando desse estardalhaço todo em torno de seu nome e, principalmente, de sua figura??? Ainda não vi nada referente a isso, se alguém aí souber de matéria com ela e não sobre ela, por favor, me mande o link. Agora fiquei curiosa para saber que passa na cabeça de personagem tão peculiar.


Acho que a irreverente Susan nunca imaginou que a realização de seu sonho lhe traria tanta repercussão. Mas eu acho que o que fica mesmo de mensagem de todo esse episódio é a própria letra da música que ela escolheu para tentar a sorte na TV.


“Tão diferente daquilo que parecia”. Esse com certeza é o pensamento de todos os que viram seu show pela primeira vez no tal programa de talentos e de todos que estão conhecendo Susan na rebarba do movimento que sua aparição causou, mas, mais do que isso, acho que esse deve ser o pensamento de Susan hoje, sobre a realização de seu maior sonho.

“Tão diferente daquilo que parecia”...

10 de abr. de 2009

Tradições

Está lá no dicionário, tradição: conhecimento ou prática resultante de transmissão oral ou de hábitos inveterados. E é sempre assim, geração após geração lendas, mitos, fatos etc. são repassados, introjetados como verdades absolutas e, sendo assim, o questionamento é zero.

Quer um exemplo? Estamos em plena Semana Santa, época recheada de tradições, mas de um jeito muito peculiar para cada família. Há quem faça um sacrifício durante toda a quaresma: parar de comer chocolates ou de beber lideram o ranking, mas radicalismos também não faltam. Tudo depende da maneira como a pessoa foi criada.

Em um País onde o catolicismo – por mais crises que sofra – ainda é a religião oficial não faltam tradicionalismos repetidos à exaustão e que, no fundo, não fazem o menor sentido. Para sermos bem atuais, hoje é Sexta - feira da Paixão, certo? Sabemos o significado do feriado por força da insistência seja da escola ou da mídia, mas até que ponto vivemos a data como a Igreja espera que aconteça?


Ok, não comemos carne no dia de hoje e...? O que tem isso demais? È uma ótima oportunidade para aquela bacalhoada tão esperada. Considerando que o bacalhau “está pela hora da morte” (nunca entendi bem o significado dessa expressão, mas achei que caberia bem neste texto), essa ocasião é uma justificativa bem plausível para o gasto excessivo com o almoço especial. E domingo tem chocolate... oba!!!!!!

Tirando uma ou outra família (uma ou outra é modo de dizer porque sabemos que elas existem aos montes) que vai à missa todos os domingos e conseguem ver a importância da data, grande parte dos mortais de qualquer religião (inclusive aqueles que se dizem católicos por formação e/ou convicção) repete esses hábitos, se priva da carne sem nem pensar no porquê disso.

Claro que lá no fundo ele sabe que não se come carne porque.... Por que mesmo? Bem, não se come carne vermelha neste dia para relembrar o sacrifício de Cristo. Daí também vem a justificativa das privações a que muitos fiéis se impõem durante a Quaresma. Católica por formação, nunca entendi essa ideia de promessa, sacrifício e afins. Se Jesus é nosso Pai, não ia querer nos ver sofrendo seja por que motivo for. Se Ele nos ajudar a concretizar um projeto não o fará esperando algo em troca. Pelo menos é assim que sinto a religião.

Conta a lenda da minha família que alguns padres se fartam de carnes nobres na Sexta Feira da Paixão. Se isso é verdade ou não, eu não sei. Nunca vi um padre numa churrascaria na Sexta-feira Santa, mas escuto essa história desde que sou criança e quem sou eu para contestar. Digamos que isso seja uma tradição familiar e tradição que é tradição não se contesta.

Embora não se deva questionar uma tradição, sou jornalista e como tal tenho licença poética para questionar o que quer que seja, então: o que aconteceria se eu comesse carne hoje? Seria menos pura? Uma pecadora? Quem pode dizer que dou menos importância à história de Jesus ou sou menos filha Dele só porque me delicio com uma picanha bem gordurosa na Sexta-feira Santa?

Perguntas que vão permanecer sem resposta porque tradições não têm explicação racional, elas se pautam pela subjetividade de cada grupo social, de cada família. É uma questão de convicção e não de lógica.

Pelo sim pelo não, vamos de peixe na hora do almoço.

8 de abr. de 2009

Observações do tempo presente II

Você já reparou como as coisas andam mais aceleradas e o tempo passando rápido demais? Pois, é. Essa é a sensação da maioria das pessoas. Mas nem todas. Em tempos de crise, de demissões em massa, de redução de custos e vacas magérrimas há um grupo de pessoas que tem sentido o tempo passar lentamente.

Pais de família, jovens recém-formados, mulheres independentes (ou tentando ser) e toda sorte de indivíduos em idade ativa com mil e uma responsabilidades e sonhos estão sendo tolhidos de seu direito de fazer a roda do mundo girar e passam dias e noites a espera... de um milagre?!

Quase isso. Essas pessoas esperam um telefonema, um e-mail ou coisa que o valha com uma boa notícia, uma proposta por mais simples que seja, mas que lhes faça respirar mais aliviado, que lhes dê um novo fôlego para prosseguir vivendo.

Tenta-se de tudo: ligar, bater de porta em porta, enviar e-mail de trocentas maneiras diferentes e nada. Nada acontece e os dias seguem sua rotina. Computador, televisão, rua, tarefas domésticas, conversas sem nenhum sentido e a vida corre...

Corre para onde? Será que um dia se chega mesmo à linha de chegada ou volta-se ao ponto de partida? Vira e mexe surge uma ideia, uma entrevista, uma possibilidade que logo se frustra e aí? Faz-se o quê?

De quem é a culpa? Do desempregado? Do governo? Da crise internacional? Não sei as respostas, sei que cada dia fica mais difícil para essas pessoas terem esperança, acreditarem que tudo vai melhorar, que o futuro é promissor porque na verdade, o futuro já chegou e as necessidades não cessam porque o emprego não vem. A criança não deixa de ficar doente, o dente não deixa de doer, as contas não deixam de chegar, mas o contracheque sim.

E é essa dura realidade que desacelera o relógio e acelera a mente, a vontade de que as coisas aconteçam logo, que a crise passe, que as empresas contratem e não olhem a sua idade avançada ou a sua falta de experiência na hora de contratar. Que não façam questão do inglês avançado que você nunca teve oportunidade de fazer, de conhecimentos profundos da informática que você mal conhece nem da pós-graduação que você ainda não teve tempo de fazer.

Sem mais observações por hoje.

6 de abr. de 2009

Observações do tempo presente

Quando eu era adolescente, computador era artigo de luxo presente apenas na casa dos mais abonados, donos de carrões e gordas contas bancárias. Hoje a maioria das casas tem um computador equipado com internet e todos os programas necessários para baixar vídeos, músicas, fotos, jogos e tudo o mais o que se deseja.

Os programas de comunicação são inúmeros e surgem a todo o momento com o objetivo de aproximar as pessoas na esfera virtual. Jovens adultos como eu demoraram um pouco para se adaptar a esse novo mecanismo, mas uma vez acostumados, um abraço!

Agora que essa linguagem faz parte do nosso cotidiano, um dia sem ela é caos na Terra. E aí fica a reflexão: mas como pode isso? Há bem pouco tempo eu nem imaginava o que era um e-mail e agora se não checo os meus pelo menos três vezes ao dia sinto que posso estar perdendo algo muito importante.

O mesmo acontece com o celular, que hoje virou artigo de primeira necessidade para todos os mortais acima dos 10 anos de idade. Quando alguém diz que não tem um celular ou não faz parte dos sites de relacionamento as pessoas estranham, ele é considerado “fora da atualidade”. Mas até que ponto isso é verdade?

Fazendo uma autocrítica, creio que hoje quem consegue se livrar desses mecanismos tecnológicos e levar uma vida longe de tais amarras é mesmo um vanguardista. Esses poucos indivíduos que vencem o tabu da pós-modernidade e se esquivam dos padrões tidos como “antenados” estão um passo a frente de todos nós.

Ao abrir mão da dependência da tecnologia, essas pessoas se permitem viver uma vida mais simples, com mais contato direto com os amigos, conhecidos, colegas e desconhecido. Têm mais tempo para simplesmente não ser encontrado e poder se dedicar a uma boa caminhada ou a leitura de um livro sem que o celular toque incessantemente, sem que alguém possa encontrá-lo com um problema gravíssimo (que geralmente é resolvido em cinco segundos) e furtá-lo daquele instante mágico de uma solidão previamente programada.


O mundo pós-moderno virou novamente uma aldeia e nem se deu conta disso. Uma vez na grande rede de comunicação que se popularizou especialmente no Brasil o indivíduo é colocado em uma vitrine virtual onde todos os seus passos podem ser acompanhados por qualquer pessoa. Seja uma frase colocada no MSN ou uma foto postada no Orkut. Tudo é exposto na internet e a gente se engana dizendo que gosta de privacidade.

Gosta nada... sob o pretexto de querer encontrar e/ou conhecer pessoas, a gente se expõe e fica ali a mercê de fofocas, de mal-entendidos. O fato é que o ser humano, em especial o brasileiro, é um ser gregário por natureza e tudo o que nos proporciona reunir mais e mais pessoas é facilmente adaptado ao nosso cotidiano.

Se isso é bom ou mau eu ainda não sei. Não vim ao mundo para julgar. Já diria Zuenir Ventura que o jornalista está aqui para ser “testemunha do seu tempo” e não para tirar conclusões, prender ou condenar. Sendo assim, recolho-me ao meu papel de observadora da vida e continuo usando esses mecanismos para observar e ser observada. Quem sabe um dia, tanta observação não me leva a algum lugar??

1 de abr. de 2009

Erudito e popular

O povo não gosta de cultura erudita ou não consome por que não lhe é oferecido? Vira e mexe esta questão me ronda a mente. Eterna “pollyana”, sempre preferi acreditar que as rimas pobres do funk e as letras onomatopéicas do axé só fazem tanto sucesso porque têm uma indústria milionária por trás fazendo um trabalho espetacular de divulgação.

E na outra ponta as músicas eruditas com melodias harmoniosas, geniais são consideradas cansativas porque estão sempre associadas a um passado que a juventude, principal consumidora dos produtos culturais industrializados, abomina por completo. Óperas e concertos são programas “para gente velha”, são chatos, maçantes e por aí vai.

Tanto repúdio só tem uma explicação: não se vê orquestras se apresentando no Caldeirão do Huck e muito menos cantores líricos fazendo shows no Domingão do Faustão. O que se dirá então de um clipe musical da V Sinfonia de Beethoven na MTV. Essas cenas parecem um tanto surreais porque não estamos acostumados a elas.

E se não conhecemos outra coisa como escolher entre “o que eu gosto” e “o que eu não gosto”? Assim, seguimos tentando escolher o que é melhor entre o “Créu” e “Festa no Apê”. Acreditamos que essa é a maior expressão do nosso livre arbítrio, da nossa liberdade de opinião sem darmos conta de que se trata de variações do mesmo tema.

Quem define o que é erudito e o que é popular é a mídia, claro, atendendo a interesses mercadológicos, mas esse debate não está em questão no momento. Este post tem o objetivo de falar desse embate entre o erudito e o popular porque algumas questões permanecem sem resposta ao longo dos anos.

Já foi dito aqui que cultura é algo que está entre as pessoas, certo? Música é uma das expressões culturais humanas, certo? A globalização uniu os povos, eliminou as fronteiras culturais, certo? Então onde está escrito que a música clássica só pode ser ouvida por um grupo seleto de europeus ou indivíduos de qualquer nação desde que “sejam estudados”? Por que não é possível encontrarmos uma secretária do lar que adore ouvir Chopin em seu MP3 comprado na promoção das Casas Bahia dividido no carnê em 19 vezes? Ou um doutorando da Harvard ouvir um bom pagode brasileiro em seu carrão último tipo?

A resposta é simples, meus caros. Desde sempre a sociedade cria estereótipos que vão sendo reproduzidos geração após geração sem o menor critério virando uma bola de neve incontrolável. Há alguns anos, zapeando os canais de TV surpreendi-me com uma cena que merece, no mínimo, um pouco de atenção. Um músico se apresentava em algum país aparentemente europeu diante de uma massa entusiasmada.

Homens, mulheres, jovens, adultos, idosos e crianças loiros se acomodavam no meio da rua fosse na calçada, em cima de muros, árvores ou confortáveis cadeiras para assistir aquele espetáculo tão envolvente. Músicas clássicas entoadas por um violino nervoso, vibrante, um músico alegre, sorridente e divertido.

Era André Rieu subvertendo a idéia que temos de um concerto. Apaixonado pela música ele deixava essa paixão transbordar para aqueles que o assistiam e era impossível não se deixar envolver por aquele som. Na época eu ainda nem havia entrado na faculdade ninguém em minha casa tinha o hábito de ouvir músicas clássicas, no entanto, todos fixaram os olhos na TV e se divertiram tanto quanto aqueles felizardos europeus que tinham a sua rua como o palco de um belíssimo espetáculo.

Você deve estar pensando: “ah... mas eram europeus! Outro nível! Isso não daria certo no Brasil”. Engana-se, amigo internauta. Não só seria como é possível. Cidade do interior de São Paulo, São José dos Campos surpreende pelo incentivo à cultura. O Parque Vicentina Aranha volta e meia se apresenta como palco de manifestações culturais diversas.

Em junho de 2008 o referido Parque sediou a apresentação do grupo “De Puro Guapos”. Formado por músicos argentinos, o grupo apresenta tangos e contou com uma educada, participativa e vasta plateia. Assim como no caso europeu, idade e classe social não eram pré-requisitos para assistir ao show oferecido gratuitamente pela prefeitura. Após o evento, cada um retirou a sua cadeira devolvendo-a para o local adequado e saiu do local de forma organizada e civilizada.

Cena estranha para um grupo de brasileiros? Pois é real e eu estava lá para conferir e comprovar a minha tese de que se o chamado “povão” não gosta da cultura considerada “elitizada” é porque não a conhece. Se só lhe são oferecidos quadris rebolativos e refrões pornográficos, fica difícil gostar de algo que fuja disso. Fugir do óbvio e oferecer algo novo que enriqueça o universo cultural do cidadão é dever dos formadores de opinião.

31 de mar. de 2009

Jornalismo em pauta

Na próxima quarta-feira, dia 1º de abril, o futuro da sociedade será definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se esta afirmação lhe parece exagerada, é bom que saiba que nesta data estará em julgamento o Recurso Extraordinário que questiona a exigência do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão.




É isso mesmo. Há no País quem acredite que não é preciso um diploma para exercer a função de jornalista. O que baseia o discurso contra a exigência do diploma é o fato de que, de acordo com a Constituição de 1988, todo indivíduo tem o direito de expressar a sua opinião.

O que acontece é uma confusão de conceitos. Claro que cada um de nós pode emitir opinião sobre o que quer que seja, mas isso não é jornalismo. Aliás, muito pelo contrário. O que só os bancos da faculdade ensinam é que o jornalismo sério e de qualidade só é exercido de verdade quando tem a imparcialidade e a objetividade como meta.

O que isso quer dizer? Que a subjetividade deve passar longe das matérias informativas. Concordo que para escrever crônicas e artigos boa cultura, senso crítico e talento para escrever bastam, mas para apurar os fatos, hierarquizá-los e transformá-los em um texto que atraia o leitor, telespectador ou internauta é uma tarefa que vai além de talento. É preciso, sim, passar por uma formação específica para se entender a dinâmica da profissão.

O jornalismo é uma área vasta, não existe uma regra única para se trabalhar em televisão, rádio, jornal impresso ou hipermídia. Cada veículo tem as suas peculiaridades e uma linguagem específica. È preciso mais do que conhecimento técnico para transitar em cada um desses universos com habilidades.

Nem só da vida acadêmica se faz um bom jornalista, mas é ela quem dá a base para todo o resto. Se não é justo que aqueles que exercem a profissão sem diploma percam seus direitos, também não é correto que os que passaram por anos de faculdade, que investiram tempo e dinheiro não sejam valorizados por isso.

Ao contrário do que pode parecer, jornalismo é coisa séria. Tem influência direta na vida das pessoas e não pode ser encarado como uma brincadeira. Uma informação errada ou mal apurada pode destruir a vida de uma pessoa. Se com diploma os erros não deixam de acontecer, não dá nem para imaginar o que pode acontecer sem ele.

É na Academia que o aspirante a jornalista aprende a real noção de sua importância na sociedade, a seriedade da profissão que escolheu e, depois de quatro ou cinco anos jura, com todo orgulho e consciência:

“Juro, no exercício das funções de meu grau, assumir meu compromisso com a verdade e com a informação. Juro empenhar todos os meus atos e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para a construção de uma nação consciente de sua história e de sua capacidade. Juro, no exercício de meu dever profissional, não omitir, não mentir e não distorcer informações, não manipular dados e, acima de tudo, não subordinar em favor de interesses pessoais o direito do cidadão à informação.”

Sem as teorias e normas profissionais aprendidas na faculdade, todo o talento do mundo é incapaz de entender de verdade a importância dessas palavras.

*Arte: site da Fenaj

27 de mar. de 2009

Talento e Cultura

Tem gente que acha que para ser artista basta ter talento e pronto. Mas não é bem assim. Talento é 10% do sucesso de um artista, os outros 90% depende de muito suor. Entenda-se por suor aquela parte “braçal” dessa glamourosa profissão, ou seja, estudo, treino, ensaio, orientação e tudo o mais.

Ser músico, ator ou cantor é um universo que mexe com a cabeça das pessoas, ainda mais em um País como o nosso em que bastou aparecer remexendo os quadris em uma banda de axé ou de funk para a pessoa já ser considerada artista. A maioria das pessoas pensa que é uma vida cheia de encantos, mas o artista bom, aquele que merece o título de verdade, tem que “ralar”. Não tem outro jeito.

Ator de teatro a mais de 30 anos, Marcus Marchiori declara: "Teatro não é só intuição e talento natural. Um ator para ser bom tem que saber algumas técnicas, tem que ter estudo". Seja qual for o talento do indivíduo, se não estudar nem levar a profissão a sério, acaba sendo só mais um rostinho bonito ou “cantor de uma música só” que cai no ostracismo com a mesma rapidez com que atingiu o estrelato.

É comum vermos meninas de 15, 16 anos dizendo que querem ser atrizes iludidas com o brilho e o charme da profissão.O que essas meninas não sabem é que atuar não é simplesmente decorar um texto e dizê-lo diante as câmeras. Ser ator é algo que vai além e exige trabalho físico, emocional e intelectual. È preciso muito estudo para o talento virar sucesso de audiência.

A beleza da juventude passa e só permanecem na TV aqueles atores e atrizes que se esmeram para ser sempre mais. Para garantir o que conquistaram hoje, Tony Ramos e Suzana Vieira tiveram muito trabalho e não se deixaram seduzir pelo sucesso. As celebridades instantâneas comuns na sociedade contemporânea acabam engrossando a lista dos indivíduos frustrados.

O fato de os atores não terem que seguir o ensino tradicional, não os demite da obrigação de ter um mínimo de instrução e cultura, pois só assim se chega ao estrelato. É preciso estar sempre atento ao que acontece, ler bastante, assistir a muitos filmes de estilos e épocas variadas, enriquecer a bagagem cultural para que faça o seu serviço da melhor maneira.

Afinal, qual é a função do ator? Interpretar vidas distintas das suas, personagens com características opostas ou mesmo inadmissíveis para eles, se transportar para uma outra cidade, país ou época da maneira mais verossímil possível a fim de fazer com que o telespectador mergulhe com ele nesse universo e esqueça do que acontece na vida real.

Por mais que a pessoa tente fugir do estudo, por mais que diga que odeia cultura, ela não tem como fugir. Para tudo nessa vida é preciso aprender algo, saber algo porque é essa troca de saberes que faz o mundo girar. Até para ser político e roubar do povo é preciso ter sapiência e esperteza para não acabar desmascarado nas páginas dos jornais.

24 de mar. de 2009

Vale Cultura

Foi preciso mais de duas décadas de democracia para o governo brasileiro se dar conta da necessidade de se valorizar a cultura nacional, facilitando o acesso aos bens culturais e garantindo incentivo igualitário para os projetos culturais de todas as regiões do País. Pesquisa realizada em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que 90% dos municípios brasileiros não possuem qualquer tipo de espaço voltado à cultura.

Isso quer dizer que das 5.564 municipalidades que compõem o território nacional cerca de cinco mil não têm cinema, teatro, museu ou espaço destinado à produção cultural. Ou seja, milhares de indivíduos nunca foram ao teatro ou assistiram a uma exposição de arte. Alguém pode pensar que isso não significa nada, mas se entendermos que a cultura é fundamental para a formação da identidade nacional, esse dado passa a ser bastante significativo.

Significa que mais da metade do País não se entende como nação e isso é muito grave. É a identidade nacional, a compreensão do que é a cidadania que faz as pessoas se sentirem parte de seu grupo, de sua comunidade, valorizando a sua auto-estima. Os dados da pesquisa do IBGE são alarmantes e, finalmente, o governo federal se deu conta disso.

Diante dessa informação (e de muitas outras que o IBGE forneceu e que são de arrepiar os cabelos) o Ministério da Cultura (MinC) elaborou um projeto que prevê mudanças na Lei Rouanet. A Lei Rouanet é aquela que prevê incentivo a empresas e indivíduos que queiram desenvolver algum projeto cultural. Entre outras medidas, a lei prevê dedução do imposto de renda do valor investido na execução do projeto.

A medida que mais se destaca na nova proposta é a criação do vale - cultura, no valor de R$ 50, que deverá ser distribuído aos funcionários nos moldes do vale – refeição. A ideia é que o indivíduo gaste esse dinheiro em bens culturais como livros, CD’s, ingressos para cinema, shows, concertos e peças teatrais. Isso seria muito bom porque facilitaria o acesso do grande público a esses bens que, hoje, apresentam preços inacessíveis para as classes menos favorecidas.

Outra proposta do projeto de renovação da lei de incentivo à cultura é tornar a distribuição dos recursos federais mais igualitária entre as regiões geográficas, já que hoje as regiões Sul e Sudeste ficam com 80% das verbas e as outras regiões têm que se contentar com o que sobra.

A proposta de mudança na Lei Rouanet está aberta à consulta pública e ainda não se sabe ao certo como que ela vai funcionar na prática, mas o motivo que me leva a escrever este post é, simplesmente, a iniciativa. Por mais que as novidades ainda não estejam bem esclarecidas e os produtores culturais estejam receosos com as propostas do MinC, a iniciativa já é louvável. Ainda que tenha vindo tarde.

Vamos torcer para que surjam mais iniciativas desse porte porque o Brasil só tem a ganhar.

23 de mar. de 2009

Crise ambiental

Ventos destruidores, ondas gigantes devastadoras, temporais fora de hora, enchentes que levam móveis, sonhos e vidas, avalanches, cidades ameaçadas pelo aumento do nível dos mares e toda sorte de fenômenos naturais que ficaram completamente bagunçados nos últimos anos. Tudo causado por um único motivo: aquecimento global.

Ok, eu sei que você já está cansado de ouvir falar nisso, mas é preciso falar sempre mais porque parece que a maioria das pessoas ainda não se deu conta de que nós somos os culpados de famigerado mal. O homem destruiu aquilo que tinha de mais valioso: a natureza.

Em nome do tal progresso, devasta-se a Amazônia, corta-se árvores sem qualquer critério, entope-se os grandes centros de indústrias fumegantes liberando gás carbônico e poluindo o ar e não se cria uma ruguinha se quer na testa quando um produto químico, altamente tóxico é despejado no mar, matando os animais que ali têm seu habitat natural.

As pessoas estão dando de ombros para isso e continuam a manter seus carrões importados desfilando pela cidade para ir de casa à padaria, jogam papel no chão e na primeira enchente repetem o discurso para lá de hipócrita culpando o governo. Como diz a “boca pequena”, sentam-se no próprio rabo para falar do rabo alheio.

Longe de demitir o governo de sua culpa por não realizar as obras e as políticas ambientais necessárias, estou aqui para mostrar que estamos todos no mesmo barco que logo se afundará numa dessas enchentes (quiçá, numa tsunami). A grande verdade é que todos nós temos parcela de culpa no caos ambiental que estamos enfrentando e que tende a piorar para as gerações vindouras.

“Ah, o Brasil é um país abençoado, não tem furacão, terremoto, nevasca, nada disso”. É assim que escondemos nosso egoísmo. Que se dane os animais que morrem nos mares do mundo todo por conta da poluição, que se danem aqueles que perdem as suas casas por causa da chuva, que se danem...

Que se danem os mortais individualistas e auto-centrados cujas mentes não vão além do próprio umbigo! Os animais que morrem lá alteram a cadeia ambiental no mundo todo, aquela velha história da borboleta que bate as asas aqui e causa um terremoto na Índia nunca foi tão verdadeira.

É preciso redefinir o conceito de progresso e realizar ações que não prejudicam em nada, nem alteram sua rotina diária. O Fantástico do último domingo lançou uma questão que merece ser considerada. O que é progresso: ter um carrão e viver numa cidade onde ninguém respeita ninguém ou andar de bicicleta e respirar um ar puro e ter uma vida mais digna?

Atitudes triviais como jogar lixo no lixo, não usar embalagens plásticas além do necessário, andar mais a pé ou de transporte público deixaram de ser meramente uma questão de educação para alcançar status de preservação da humanidade. E isso não é exagero, é uma constatação. Mais do que uma crise econômica, passamos por uma crise ambiental muito mais grave e de consequências muito mais cruéis. É preciso repensar nossos valores e prioridades.

21 de mar. de 2009

Juiz de Fora e a cultura




Em 1909 um grupo de 12 intelectuais entre jornalistas, literatos, homens públicos, profissionais liberais e militantes da cátedra e dos tribunais se uniram em torno de um nobre objetivo.

Ligados às artes e à cultura, esses homens acharam que era necessário criar um órgão capaz de preservar a língua portuguesa. Os objetivos principais eram o culto, a defesa e a sustentação da pureza da língua e a produção intelectual na sua plenitude e variedade.

Visionários e vanguardistas, esses intelectuais mineiros criaram a Academia Mineira de Letras em... Juiz de Fora. Exatamente. No interior de Minas Gerais a cidade, que hoje só aparece no mapa quando algum prefeito é inapto para cometer os habituais crimes políticos e dá as caras em todos os noticiários nacionais, foi palco de movimentos culturais fundamentais para o desenvolvimento da sociedade.

Que a cidade já foi importante no cenário econômico todo mundo sabe, mas a Manchester Mineira é hoje uma vaga lembrança na mente dos meus conterrâneos. É “apenas” história, muitas vezes difícil de acreditar quando nos deparamos com o cenário sócio-econômico atual da cidade.

A cultura, então... essa nem é lembrada pelos nativos da antiga Princesa de Minas. Falar que Juiz de Fora já foi pólo cultural é quase um devaneio para quem vive na cidade atualmente, mas isso é verdade. E – pasmem - se hoje ela já não é mais um pólo cultural, ainda é reconhecida pelos artistas nacionais como um grande centro produtor de cultura.

Mas então, de onde vem esse preconceito com a cultura local? Creio que o grande ponto seja o fato de que fomos ensinados a valorizar o que vem de fora e relegar o que produzimos a segundo plano. Basta ver o que aconteceu com a cantora Ana Carolina.

Nascida e criada em Juiz de Fora, a cantora ficou anos esbanjando seu talento pelos bares e palcos da cidade sem qualquer reconhecimento da mídia ou mesmo do público. Bastou a moça aparecer em programas de auditório de nível nacional para tudo que é juizforano bater no peito e dizer: “ela é da minha cidade!”.


O que acontece na cidade é uma espécie de xenofobismo ao contrário. Ao invés de atacarmos o que vem de fora, idolatramos, exaltamos como se tivesse um valor incontestável. Tudo o que é produzido no eixo Rio - São Paulo chega para os juizforanos com status de incrível, basta prestarmos atenção na diferença de público que existe entre os eventos nacionais e os locais.

Não estou aqui atirando pedra no que vem de fora, ao contrário, também sou fã dos artistas de reconhecimento nacional. Minha crítica é e sempre foi o preconceito que temos com o que é nosso. Pagamos preços absurdos para um show de um artista às vezes nem está mais entre os “top 10” das rádios, mas regulamos gastos para a apresentação daquela banda incrível, que tem músicas que nos tocam muito mais porque ele é da terra.

Mas se ele cresce, tem música na trilha sonora da novela, pronto. Vira celebridade e orgulho dos juizforanos. Aposta quanto que Josy Oliveira, que já tinha talento antes, vai voltar para a terrinha super badalada, dando entrevista para todos os veículos de comunicação da cidade e que os shows dela ficarão abarrotados quando ela sair do BBB?

Acho que está na hora de revermos nossos conceitos e prestarmos mais atenção ao que nos rodeia. A Juiz de Fora do século XXI está longe da efervescência cultural dos anos 60, dos movimentos literários, de O Pasquim e companhia, mas há muita coisa boa sendo produzida por aqui, basta sabermos procurar. Quer exemplos?

A banda Operação Tequila, a cantora Myllena, Bruno Nogueira. Artistas de outras artes, fora da música? Gerson Guedes, Heloiza Curzio, Marcus Marchiori, Márcia Falabella... e por aí vai...




Provavelmente, muitos habitantes de Juiz de Fora nunca ouviram falar desses nomes e nem fazem ideia do que eles representam para as artes locais, mas são artistas de primeira linha, com tanto talento quanto aqueles que você vê em revistas de celebridades.

A arte não tem fronteiras e não há lei que determine que cidades do interior não possam produzir talentos. E sem essa de que Juiz de Fora não tem cultura. Onde quer que haja um povo a cultura está presente. Nem melhor nem pior do que nos grandes conglomerados, apenas diferente. E é isso que faz do Brasil uma nação tão rica.

18 de mar. de 2009

(In)dependência moderna

Antigamente as mulheres eram criadas para serem esposas e mães. Ao longo da vida aprendiam a lavar, passar, cozinhar, ser tolerante, arrumar a casa, ser uma esposa para o marido, uma boa mãe para os filhos. Aos homens cabia o papel de prover a família através de seu trabalho.

Acontece que essas mesmas mulheres se cansaram dessa rotina monótona e lá pelas tantas foram para a praça queimar sutiãs, exigir seus direito e lutar por um lugar no mercado de trabalho. Educaram suas filhas para estudar, fazer faculdade, ter uma profissão que as livrassem da terrível dependência masculina.

E assim foi. Essas meninas fizeram faculdade, estudaram inglês, fizeram ballet, foram trabalhar, fizeram pós-graduação, se especializaram o máximo que puderam, conquistaram um bom emprego, independência financeira e... foram morar sozinhas.

E aí começou o problema. As lindas profissionais gabaritadas, poliglotas e muito safas na vida pessoal mal sabiam pegar no cabo de uma vassoura. Ok, elas têm um emprego, mas o salário está longe de permitir luxos como uma empregada doméstica (vivemos no Brasil, baby!). E ainda que permitisse: como ensinar o que não se sabe fazer?

E aí, vem a novela das oito nos brindar com hábitos de uma cultura diferente e a mulherada nacional diz que é um absurdo essas mulheres viverem exclusivamente para seus maridos. E bate no peito para dizer que não sabe nem fritar um ovo, que passa longe de faxina etc., etc., etc.

Acontece que a cozinha é um lugar que toda mulher moderna deveria conhecer. Se não para cozinhar para marido e filhos, que seja para cozinhar para si mesma. Afinal, até para se fazer uma saladinha com uma carne grelhada é preciso ter algum conhecimento de temperos e panelas.

Depois de décadas de uma submissão cega ao sexo oposto, as mulheres passaram a acreditar que independência é uma questão meramente financeira e não é. Ser independente é poder manter uma casa pagando todas as contas de aluguel, luz, condomínio, telefone, internet mais as despesas pessoais com alimentação, médico e remédio, sim.

Mas não é independente aquela que faz tudo isso, mas almoça na casa dos pais, leva a roupa suja para a mãe lavar toda semana e só vê um sinal de organização na casa depois da visita materna. A mulher ou o homem (sim, meu bem, os homens estão no mesmo bojo) que vive nessas condições continua sendo um dependente da família.

Num mundo moderno e sem fronteiras, homens e mulheres devem ser independentes em todos os sentidos. Financeiros, emocionais e práticos. Um representante do sexo masculino que se diz independente deve saber lavar, passar e, pelo menos, se virar na cozinha.

Os homens quando saíam de casa, passavam por esse aperto de não saber se virar longe da mamãe, mas essa “ignorância doméstica” era permitida para eles. Para as mulheres, não. Esse é um valor que, bem ou mal, ainda prevalece na cabeça da maioria das pessoas que se esquece de que as mulheres de hoje foram preparadas para serem homens de saias. As diferenças entre os sexos deixaram de ser respeitadas no que diz respeito à educação.

Passamos por uma crise de valores e ninguém percebeu. Ou se percebeu, ignorou. As mulheres frutos da geração “nós somos iguais a eles” devem lembrar que cuidar da casa é tão importante quanto ganhar dinheiro porque ninguém vive num chiqueiro e não há organismo (nem conta bancária) que resista a sanduíche todos os dias.

Ao contrário do que possa parecer, não sou uma machista retrógrada. Muito pelo contrário. Acho que essa cultura que obriga o homem a dar o sustento da família e a mulher a cuidar do lar é extremamente ultrapassada. O que defendo aqui é o direito (para não dizer o dever) de homens e mulheres se virarem sozinhos em uma casa. E que, quando casados, dividam todas as tarefas.

E quando eu digo todas, são todas mesmo, desde as contas até as louças empilhadas na pia. Isso, sim, é ser moderno, isso, sim, é ser igual. Só dessa forma as diferenças são respeitadas e o serviço dentro e fora de casa não pesa para nenhum dos lados.

Repetir velhos padrões ou abandoná-los de vez são atitudes muito radicais que só servem para mostrar a falta de preparo de homens nem mulheres para serem realmente independentes como tanto querem.

16 de mar. de 2009

O fascínio das novelas

Nunca fiz nenhum estudo estatístico, mas, empiricamente, ousaria dizer que nove em cada dez brasileiros são fãs de uma boa novela. E aí se incluem homens e mulheres (com primazia delas, claro). E esse fato é perfeitamente compreensível.

O que acontece é que a cultura de massa torna a realidade mais bonita, faz os sonhos, ilusoriamente, possíveis através de um produto rico, sedutor – ainda que inconsistente. Quem de nós nunca se colocou no lugar da moça pobre, trabalhadora, de hábitos modestos que se apaixona pelo homem rico, inteligente, bem vestido – e hetero, claro!- e que consegue realizar esse amor?

E quem nunca pensou: “Isso poderia acontecer comigo!” quando, diante da TV vê a história de um personagem que não nasceu em berço de ouro, mas trabalhou, lutou e conseguiu construir um império, tornando-se rico e poderoso?

Se você é um desses mortais que ri, chora e sonha com as telenovelas padronizadas cujo final é perfeitamente previsível, não se acanhe. Elas são feitas justamente para isso. Produtos típicos da indústria cultural, as novelas são criadas para alimentar desejos e, principalmente, o consumo, que vem na mesma esteira, garantindo o bom funcionamento da máquina capitalista.

E, assim, a indústria cultural vai criando mecanismos de sublimar a dor da impotência, imposta pela dura realidade nacional, através do riso, da lágrima, enfim, da emoção. Usando o amor como pano de fundo, as novelas mobilizam o País com suas tramas rasas, entremeadas de muito sexo, violência, certa dose de romantismo e a certeza de que todos viverão felizes para sempre no final.

Isso acontece porque a gente se reconhece nas telas, vê expostas as nossas mazelas e a superação das mesmas, o que nos dá certo conformismo, afinal, se a vida está ruim agora, vamos continuar lutando que lá na frente tudo se resolve. Essa é a mensagem implícita em toda novela.

Claro que isso não está de totalmente equivocado. Temos que ter fé no labor diário e acreditar que as coisas vão melhorar, o problema é quando as pessoas se regozijam da glamourização da violência, por exemplo, e encaram aquilo que veem na TV como uma verdade absoluta.

Dada a sua penetração, as novelas têm a função de eliminar os pontos de conflitos existentes na sociedade, inserindo os valores já existentes nela de uma forma mais “democrática” em todos os pontos do País, a fim de restabelecer a ordem. E nisso elas são muito eficientes.

Daí a importância de personagens que tragam temas como a gravidez na adolescência e o alcoolismo no passado ou o homossexualismo e a clonagem mais recentemente. A polêmica que tais abordagens trazem é considerada ousadias dos autores e geram reações veementes, no entanto, forçam a discussão e aquilo que era considerado “diferente” passa a fazer parte do cotidiano das pessoas naturalmente.

O fato é que a TV não cria valores, ela reforça o que já existe para tentar reduzir o preconceito e tornar algumas situações que, longe de terem o caráter maniqueísta do que é certo ou do que é errado, são reais e merecem uma discussão.

Considerando essa função social das telenovelas, não se pode apontar o dedo para elas fazendo só críticas. É preciso admitir que elas contribúem para a cultura do povo brasileiro, que são capazes de promover algumas transformações no comportamento das pessoas, mas, mais uma vez, fica o apelo: ao se deleitar diante dessas tramas apaixonantes e envolventes, não esqueça o senso crítico.

Novela não é realidade, por isso, antes de sair por aí reproduzindo o comportamento de seus personagens favoritos ou usarem-nos como justificativa para os seus atos, faça uma análise crítica, desconsidere as cargas exageradas de drama, humor ou suspense e reaja ao que está vendo.

Por mais que queira se aproximar da realidade, as tintas são sempre mais carregadas do que deveriam nas novelas, porque elas fazem parte da categoria entretenimento. Se fossem relatos da vida real, seriam telejornais. Pense nisso!

15 de mar. de 2009

Reflexões sobre a arte e a sociedade

"Tudo o que é sólido se desmancha no ar”
(Karl Marx)


Conta a história que na era medieval a arte era adorada enquanto manifestação de um dom divino, possuindo valor de culto. Dessa forma, ela adquiria uma originalidade e uma autenticidade que a fazia única.

No entanto, os tempos modernos vieram se contrapor a esse caráter ritualístico quando trouxeram novas tecnologias capazes de reproduzir fielmente a obra de arte que antes estava num status de criação divina.

Se você tem uma fotografia do quadro Monalisa, tecnicamente, não precisaria ir ao Louvre para conhecer o original. Se tem acesso à cópia digitalizada de Cem Anos de Solidão, não precisa comprar o livro de Gabriel Garcia Márquez e por aí vai, certo?

Sim, mas apenas em parte. Se por um lado as reproduções técnicas tornam tangíveis os grandes clássicos das artes, por outro, faz perder alguns detalhes que dependem do momento exato em que foi criado, é o que os críticos mais rigorosos chamam de “aura do objeto artístico”. Essa o indivíduo só terá acesso se estiver no Louvre ou onde quer que esteja a obra.

Mas aí fica uma questão: será que isso faz mesmo diferença? Se eu consigo ler o livro e captar a mensagem que ele quer transmitir, o que importa se é uma cópia ou um original? Se a arte foi feita para ser apreciada pelo maior número de pessoas possível, se ela tem que ir “onde o povo está”, então, que a tecnologia venha para cobrir essas lacunas e tornar tangíveis obras que antes eram adoradas à distância.

Acontece que no instante em que o criador passou a ser suplantado pelo reprodutor, mudou - se todo o estatuto da arte porque quebrou a sua unicidade, dando-lhe potência para ser algo além de um ritual. A arte tornou-se uma prática: a política. E isso é grave.

Nós só conhecemos a arte sob esse aspecto político e por isso é difícil aceitar a crítica que se faz a esse processo. Mas é preciso entender que a arte deixou de existir por ela mesma para assumir um objetivo, normalmente, atrelado aos interesses do mercado. Assim como todos os produtos da modernidade, a arte passa a ser uma manifestação efêmera e o artista passa a ser um espelho dessa sociedade onde tudo é fugaz.

Se antes a cultura era uma forma de se construir algo novo alicerçado na desconstrução de um conceito que já não atende à vontade das pessoas, a indústria cultural veio solapar esse caráter contestador do artista.

Nesse contexto, é preciso uma reflexão crítica sobre a sociedade para que os valores não se percam no caminho. E a quem cabe essa função? Aos intelectuais? Aos professores? Aos jornalistas?

Essa função, meus caros, cabe a qualquer indivíduo capaz de pensar de forma racional e coerente o mundo em que vive visando o progresso. Somente através da educação e do espírito crítico alcançamos o verdadeiro progresso, aquele que faz a nação andar para frente.

Ao lermos o jornal, assistirmos a TV ou acessarmos um blog temos que ter em mente que o que está sendo veiculado ali, não é uma verdade absoluta. Este post pode ser um grande amontoado de bobagens, mas se lhe fez pensar sobre o assunto, já cumpriu a missão a que se propôs.

12 de mar. de 2009

Fábrica de heróis

O assunto do momento no meio esportivo é a volta de Ronaldo “Fenômeno” (?) para os gramados. “Fenômeno vai voltar, não vai?”. Pois bem, ele voltou, jogou, fez gol e a mídia já o apresenta como herói do Corinthians.



O balzaquiano jogador - que já teve casamento relâmpago, engordou, emagreceu, operou joelho (os dois), engordou de novo, teve mil e uma namoradas, ficou sumido dos noticiários esportivos, se enganou com garotas (ou seriam garotos?) de programa, teve passagem polêmica pelo Flamengo, fechou com o Corinthians, encarou um ano de fisioterapia pesada, emagreceu de novo, voltou aos jornais por causa de uma farrinha boêmia antes do jogo, foi suspenso e, finalmente, voltou ao campo (ufa!) - é cauteloso e sabe que ainda não está no seu melhor momento.

Depois de tudo o que passou, o rapaz sabe que ainda falta muito para voltar a ser aquele jogador que empolgava a garganta de Galvão Bueno. Por que então ainda somos obrigados a ver manchetes enaltecendo o jogador, elevando-o ao status de herói? Ok, o cara é duro na queda, se esforça para voltar, mas convenhamos, ele tem mais de 30 anos e isso pesa para qualquer mortal, mesmo para os atletas.

Mais do que admiração pelo atleta extraordinário que ele foi, mais do que torcida para que ele se recupere logo e volte à boa forma de antes, desconfio que essa histeria em torno de sua volta ao futebol (em especial, o brasileiro), tem razões um pouco mais profundas. O fato é que na falha memória histórica do brasileiro não povoam grandes heróis, apenas o esporte é capaz de tal façanha, mesmo estando tecnicamente deficiente.



O caso Ronaldo é apenas o mais recente, para não dizer constante, considerando que o Brasil é “o país do futebol” e tudo que se refere ao esporte merece destaque em qualquer época do ano, mas em 2008, o garimpo por novos heróis nacionais se repetiu e em 2012 a história dará sequência porque sempre foi assim e, infelizmente, parece que sempre será.

As Olimpíadas são o maior evento esportivo do mundo, mobilizam os mais variados tipos de atletas que, teoricamente, estariam ali em condições de igualdade, afinal, tiveram o mesmo tempo para treinarem. Acontece que essa é uma visão romântica e idealizada da situação porque na prática as diferenças entre desenvolvidos e subdesenvolvidos ficam ainda mais evidentes em eventos como esses. E por quê?

Porque o diferencial está na verba, na técnica, no espaço físico, enfim, na infra-estrutura que cada nação tem à sua disposição. Um atleta norte-americano, por exemplo, treina desde criança num programa que inclui alimentação balanceada, acompanhamento médico, psicológico, técnicos bem formados, amplos e bem equipados ginásios, apoio da família, do governo, da escola, do empresariado.




No Brasil, os grandes potenciais esportivos quase sempre são descobertos “treinando” nas ruas, em um campo de várzea ou numa praça qualquer. Quando em algum pequeno centro esportivo estão é porque suas famílias – normalmente desestruturadas – quis afastá-los das drogas. Seu talento nem de longe é consequência de uma alimentação saudável.

De dois em dois anos, um evento esportivo mobiliza o Brasil, fazendo emergir no povo um sentimento de nação, um amor à pátria numa transferência de responsabilidades. Ao invés de esperarem mudanças vindas do governo, veem nos pés, mãos e braços dos atletas a grande transformação social.

É como se no momento do gol, cada pé cansado de tanto andar em busca de emprego em tempos de crise pudesse se regozijar, ter um instante de sucesso na vida. É a catarse absoluta. Passa o mês esportivo e o calejado trabalhador tem de dar novamente com os costados na realidade. E os atletas? Esses coitados, depois dos seus 15 minutos de fama passam os próximos anos relegados ao ostracismo.



O esporte está – e sempre esteve – no imaginário coletivo como instrumento de um nacionalismo quase ufanista que tem prazo de validade, é extremamente perecível. E os governos, claro, se aproveitam desse momento de euforia para engabelar os eleitores com falácias. Ou seria à toa que as Olimpíadas coincidem com as eleições municipais e a Copa do Mundo com as presidenciais?

Mas não vamos adentrar aqui em uma discussão sobre essa feliz coincidência, fazendo uma analogia entre a postura da mídia com a política do pão – e – circo. O fato a ser discutido aqui, é a fabricação de heróis pela mídia a cada novo evento esportivo. Se ter heróis é importante para a construção da identidade nacional, é preciso preservá-los, reconhecer suas fraquezas e, ainda assim, admirá-los, afinal, o Super Homem é sensível à criptonita e nem por isso deixa de ser um super-herói.


*As fotos deste post são retiradas do portal Terra

11 de mar. de 2009

A exclusão social por Adenilde Petrina Bispo

Mulher, negra e pobre ela é o retrato da exclusão social no Brasil. Ou pelo menos, deveria ser, se Adenilde Petrina Bispo fosse uma mulher qualquer. Dona de um senso crítico aguçado e de um discurso muito bem elaborado que sai de sua boca sem que seja preciso fazer força, Adenilde tem no hip hop a força de sua resistência.

Nós nos acostumamos a ver o estilo meio de banda, com receio e até com um certo medo os adoradores dessa música mais falada do que cantada, entoada de uma forma rápida, quase inteligível, mas bastam cinco minutos de conversa com Adenilde para entendermos que este é um estilo que vai muito além de estereótipos forjados pelos filmes americanos.

Na periferia de Juiz de Fora ela fala mais alto e luta por tudo o que acredita, enfrentando toda sorte de preconceitos. Tudo em nome de uma causa que não é só dela, mas de muitos outros. "O hip hop é um caminho de eu levar informação para eu conseguir atingir meu objetivo de vida que é o fim das desigualdades, do racismo e do preconceito de qualquer espécie", diz.

Num bairro onde reinavam violência e preconceito contra homossexuais, ela, através de suas idéias e de sua voz conseguiu reverter o quadro na época em que a Rádio Mega ainda estava no ar. Rádio comunitária, que há mais ou menos seis anos teve que sair do ar.

Desde aquela época, Adenilde trabalha com seus ouvintes e seguidores os cinco elementos do hip hop: break (dança), grafite (artes plásticas), MC (responsável por apresentar a cultura para a comunidade), DJ (responsável por pensar as bases da cultura), rap (poesia) e a informação, incrementada recentemente.

E para quem desbanca a relevância da informação na cultura hip hop, a guerreira dispara: "Não adianta trabalhar os quatro elementos sem informação. Temos que estudar, conhecer a nossa história para poder manter os elementos unidos e enriquecer a nossa cultura. Sem estudo nada dá certo".

Não satisfeita com o fim da Rádio, Adenilde continua realizando reuniões, em sua casa mesmo, para discutir temas como racismo, preconceito, desigualdades, oposição entre centro e periferia, homossexualismo etc. Com isso ela espera mudar a consciência da sua comunidade e convencer os jovens a trocarem a violência e a bandidagem pela arte e pela cultura hip hop.

Sua inspiração está nos fatos. Adenilde garante que houve redução da violência contra os homossexuais do bairro e também do consumo de drogas desde que essas reuniões começaram. "Muitos de nossos jovens largaram as drogas para investirem no hip hop: tem grafiteiro dando oficina, outro menino ensina break em uma companhia de dança que ele mesmo criou...".

Exemplos como o de Adenilde me fazem ter orgulho de ter nascido em um país tão rico e tão plural no que se refere a manifestações culturais. Enquanto alguns políticos diplomados e engravatados envergonham a nação publicamente, histórias de garra, coragem e amor ao próximo ploriferam na clandestinidade. Ninguém fala deles.

Como flores no asfalto, essas iniciativas resistem à poluição que cristaliza as mentes, ao vaivém de automóveis que desvia a atenção para o que acontece ao lado e colorem a realidade nacional com matizes múltiplas, suaves que me fazem bater no peito com orgulho e repetir a manjada frase usada como campanha governista, mas que faz todo o sentido: “Sou brasileira. Não desisto nunca”.

Não desisto de lutar, não desisto de descobrir outras tantas Adenilde’s escondidas nos rincões desse país e escancarar seus feitos a quem quiser conhecê-los.Não desisto de aplaudir a sapiência humana que ultrapassa livros e cadernos. Sou brasileira e não desisto nunca de ver esse país deixar de esperar o futuro que nunca vem.

Futuro que já chegou. E a velha máxima "o Brasil é o país do futuro" continua a ser repetida como aquela promessa de campanha que jamais se cumpre, mas que satisfaz os momentaneamente os eleitores, dando-lhe a falsa esperança de que dias melhores virão.

10 de mar. de 2009

Hoje tem marmelada?!


Foto: Josemar Lucas

Gente, o circo ainda existe vocês acreditam?! Não, não estou falando do circo diário que nos acostumamos a ver no Congresso. Falo daquele circo genuíno que faz gargalhar as crianças. Aquele bom e velho circo com elefante, mágico, palhaço e pipoca.

Ele permanece vivo mesmo em tempos de playstation’s, wii’s e X-box’s e isso não deixa de me espantar. Com total acesso a informação via TV, jornais, revistas e internet, eu podia jurar que as crianças de hoje já não se seduziam mais com mulheres sendo divididas ao meio, coelhos saídos da cartola e palhaços dando banho de confete na platéia, como se fosse xixi.

Ainda mais depois do surgimento do Mister M. que insiste em desvendar os mistérios das mágicas mais surpreendentes, mostrando, talvez cedo demais, o quanto a vida é dura.

O anúncio do Gran Circo Pipoca, que se apresenta em Juiz de Fora no próximo dia 15 me trouxe à mente – além das emoções vividas "na aurora da minha vida", parafraseando o poeta – a lembrança de Neli Aquino. Mulher de múltiplos talentos que vê na arte do palhaço a sua maior virtude.

Com 42 anos ela, que já quis ser médica, é músicista, fotógrafa, formada em Letras, micro empresária e artista plástica (formada) se dedicou a um curso de palhaço e se enche de orgulho dessa função. Neli gosta tanto de ser palhaça que diz que se fosse preciso escolher apenas um de seus múltiplos talentos para se dedicar pelo resto da vida, essa seria a sua escolha.

E por quê? Sem titubear, ela responde: ”Eu acho o riso muito importante... você despertar o riso da outra pessoa através do seu ridículo, do seu lixo, é muito gostoso. Essa é a grande satisfação” – argumenta.

Neli não está falando do riso nervoso, debochado, mas daquele riso espontâneo, honesto que só as crianças sabem dar. Os adultos conseguem acompanhar aquelas gargalhadas estridentes e incontidas, mas o efeito neles é bem menos intenso. Isso porque o "mágico dos mágicos" do universo deles (leia-se: a mídia) desmistifica os encantos do dia-a-dia, mostrando uma realidade dura demais e poucas são as "nelis" da vida real que conseguem sublimar a pressão rotineira, a crise financeira e transformá-la em riso.

Um riso libertador, que expurga todos os pecados, as contas para pagar, o chefe exigente, os problemas de família, o casamento mal sucedido. Infelizmente, os anos vivido já nos travestiu tantas vezes de palhaço que já não há novidade nesse mister.

Vivendo no Brasil, todos os dias temos a nítida sensação de que somos palhaços há muito tempo. Mas por mais que os castelos “secretos” (que nada têm de encantados) façam com que a gente sinta arder o nosso nariz vermelho, é preciso ter em mente que, ao contrário dos políticos que nos ludibriam com cretinices esfarrapadas na TV, os artistas – palhaços estão aí para nos oferecerem um pouco de dignidade, ingenuidade e um riso puro, sincero e limpo.

Na verdade, se fossemos palhaços, sem dúvida alguma, seríamos mais felizes. Segundo Neli, quando se transforma em palhaço "a pessoa se despe do convencional e se assume autêntica, mostrando a sua ingenuidade, a sua fragilidade e seus defeitos. O palhaço se expõe muito e faz graça dos próprios defeitos", descreve.

Se hoje tem marmelada?! Basta abrir os jornais...

9 de mar. de 2009

Poesia de bolso


Sessenta e oito páginas. Cinqüenta e duas poesias. Formato pequeno que cabe no bolso da calça ou dentro de uma bolsa sem fazer muito peso. Amor, solidão, saudade e crítica social em versos. Livro pequeno, com poder de transformação. Assim pode ser resumido Vertigens do Tempo.

Publicado em 2008, com incentivo da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, o livro é homônimo do poema que figura na contracapa do livro e traduz o que o poeta Hernani Tafuri (foto abaixo) pensa a respeito do processo de confecção de uma poesia (leia poema no fim deste post). Ele fala sobre um conflito interno que domina as emoções do eu - lírico de repente.


"A idéia de fazer poema é uma vertigem. A inspiração vem de repente e aquela idéia muda o seu pensamento como uma vertigem que corta o seu tempo, o seu movimento normal", diz.

Aos 26 anos, Tafuri já conta com uma vitória em um concurso internacional de peso no terreno poético. Considerando que o rapaz deu seu primeiro mergulho literário há apenas sete anos, na época do cursinho, podemos dizer que começou a carreira de escritor com o pé direito.

Fica a pergunta: o que faz um jovem de 19 anos com um mundo de oportunidades, baladas e micaretas sem fim “perder tempo” com literatura. Pior ainda, com poesia? A resposta vem logo na apresentação de Vertigem do Tempo: Escrevo com imenso amor e sou grato a todos aqueles que me emprestam, mesmo sem saberem, uma fração de suas vidas.

Eis aí, o grande mistério: Amor. E não estamos falando do amor platônico pela garota mais popular da escola ou do amor carnal por aquela vizinha que resolveu lhe dar bola. Os poemas de Tafuri não se resumem a isso. Além do amor, suas linhas transitam por universos ainda mais profundos.

Como todo artista, o jovem poeta tem uma alma sensível e inquieta que se ocupa de questões humanas, sociais e filosóficas profundas. Suas linhas, rimadas ou não, traduzem sua preocupação com as emoções que o ser humano carrega e com o uso que faz delas.

Crítico, o rapaz não se envergonha de dizer que das cinco dezenas de poemas selecionados para o livro, apenas duas poesias
dispensam retoques. Trata-se de Um amor, uma rosa e Quanto Vale?

“Em todos os outros tem algo que pode ser mudado. É uma reticência que sobra aqui, uma palavra que poderia ser modificada ali... nesses dois isso não acontece. Eu leio e digo: ficou bom mesmo!", confessa.


Sobre sua preferência pela literatura, Tafuri garante que não está sozinho. “Os jovens gostam de poesia, mas não têm muito acesso e voltam-se para a música mesmo.” Para ele, o que falta são poetas que se mostrem em saraus, que não trancafiem suas poesias dentro de um baú secreto. “Falta que os poetas tenham iniciativas de criar movimentos como os que aconteciam no passado, diz.”



Quem se apega ao tamanho dos livros de poesias e à complexidade das mesmas para fugir de tal leitura, fica aí uma dica. Não há construções de difícil entendimento. A poesia de Tafuri é feita para os mortais comuns como eu e você. Para quem não está acostumado a esse tipo de leitura, pode ser um bom começo.



Vertigem do tempo


Vertigem do tempo, vertigem:
segundo a segundo formando
um minuto a minuto formando
uma hora, um dia, uma vida...

Vertigem do tempo, vertigem:
quem sou? O que resta
de mim nesta pálida figura
que versa, que chora,
que atravessa o mundo
com o tempo pingando
dos olhos como lágrimas
construindo o arrebol
de um sol atômico?

Vertigem de mim, vertigem:
o que crio sou eu? O que faço
perde-se no vazio
do silêncio contido no
eu te amo de sempre, no
vá e não volte, suporte
imperfeito para o esquecido
solilóquio inaudível?...

Vertigem do tempo, vertigem:
onde estou?

Hernani Tafuri








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