10 de abr. de 2009

Tradições

Está lá no dicionário, tradição: conhecimento ou prática resultante de transmissão oral ou de hábitos inveterados. E é sempre assim, geração após geração lendas, mitos, fatos etc. são repassados, introjetados como verdades absolutas e, sendo assim, o questionamento é zero.

Quer um exemplo? Estamos em plena Semana Santa, época recheada de tradições, mas de um jeito muito peculiar para cada família. Há quem faça um sacrifício durante toda a quaresma: parar de comer chocolates ou de beber lideram o ranking, mas radicalismos também não faltam. Tudo depende da maneira como a pessoa foi criada.

Em um País onde o catolicismo – por mais crises que sofra – ainda é a religião oficial não faltam tradicionalismos repetidos à exaustão e que, no fundo, não fazem o menor sentido. Para sermos bem atuais, hoje é Sexta - feira da Paixão, certo? Sabemos o significado do feriado por força da insistência seja da escola ou da mídia, mas até que ponto vivemos a data como a Igreja espera que aconteça?


Ok, não comemos carne no dia de hoje e...? O que tem isso demais? È uma ótima oportunidade para aquela bacalhoada tão esperada. Considerando que o bacalhau “está pela hora da morte” (nunca entendi bem o significado dessa expressão, mas achei que caberia bem neste texto), essa ocasião é uma justificativa bem plausível para o gasto excessivo com o almoço especial. E domingo tem chocolate... oba!!!!!!

Tirando uma ou outra família (uma ou outra é modo de dizer porque sabemos que elas existem aos montes) que vai à missa todos os domingos e conseguem ver a importância da data, grande parte dos mortais de qualquer religião (inclusive aqueles que se dizem católicos por formação e/ou convicção) repete esses hábitos, se priva da carne sem nem pensar no porquê disso.

Claro que lá no fundo ele sabe que não se come carne porque.... Por que mesmo? Bem, não se come carne vermelha neste dia para relembrar o sacrifício de Cristo. Daí também vem a justificativa das privações a que muitos fiéis se impõem durante a Quaresma. Católica por formação, nunca entendi essa ideia de promessa, sacrifício e afins. Se Jesus é nosso Pai, não ia querer nos ver sofrendo seja por que motivo for. Se Ele nos ajudar a concretizar um projeto não o fará esperando algo em troca. Pelo menos é assim que sinto a religião.

Conta a lenda da minha família que alguns padres se fartam de carnes nobres na Sexta Feira da Paixão. Se isso é verdade ou não, eu não sei. Nunca vi um padre numa churrascaria na Sexta-feira Santa, mas escuto essa história desde que sou criança e quem sou eu para contestar. Digamos que isso seja uma tradição familiar e tradição que é tradição não se contesta.

Embora não se deva questionar uma tradição, sou jornalista e como tal tenho licença poética para questionar o que quer que seja, então: o que aconteceria se eu comesse carne hoje? Seria menos pura? Uma pecadora? Quem pode dizer que dou menos importância à história de Jesus ou sou menos filha Dele só porque me delicio com uma picanha bem gordurosa na Sexta-feira Santa?

Perguntas que vão permanecer sem resposta porque tradições não têm explicação racional, elas se pautam pela subjetividade de cada grupo social, de cada família. É uma questão de convicção e não de lógica.

Pelo sim pelo não, vamos de peixe na hora do almoço.