16 de mar. de 2010

Diogo Poças resgata a qualidade da música brasileira

Com 1,92 m de altura, traços marcantes e carisma de sobra, Diogo Poças bem que poderia ser modelo, mas não é. Contrariando as evidências, o moço é um cantor.

E dos melhores que o Brasil já produziu nos últimos tempos. Autêntico e corajoso, Diogo arrisca fazer Bossa Nova em tempos de batidas contagiantes, refrões de fácil memorização e pouco (ou nenhum) conteúdo.

Falante, maduro e tendo a música no seu DNA o cantor é um romântico incorrigível que fez uma música para conquistar a mulher dos seus sonhos (e conquistou!), acredita no seu trabalho e não tem o menor pudor em se assumir como um homem sensível em todos os sentidos. “Eu sou tudo o que não pode: nervoso, ansioso, chorão...”, confessa.

Aos 35 anos o rapaz vive (quase) a plenitude de sua vida (para atingir esse estágio ainda falta um filho, mas isso é uma outra história!). Diogo Poças é um cantor muito especial. Com um timbre de voz peculiar, seu som é cheio de charme e bossa.

Embora não negue seu amor ao ritmo de Tom Jobim, em seu CD de estreia, Tempo, o cantor vai do samba ao reggae, passando pela MPB e arranjando espaço até para o jazz pop clássico de Frank Sinatra.

A influência dos acordes do dono dos mais enigmáticos e sedutores olhos azuis da história da música se faz presente na regravação de Moonlight Serenade, que causa discórdia na crítica especializada.

“Eu recebi muitas críticas por ter regravado. Boas e ruins, mas eu quis gravar do meu jeito. O cara é o Frank Sinatra!!!!! Nunca vou ser igual a ele!!!!”, diz.

Assim como Sinatra, outros dos seus ídolos estão presentes no álbum através de versões de canções que fazem parte da trilha sonora pessoal do cantor: Tom Jobim, Caetano e Gil deixam a sua marca e compõem o repertório de Tempo.

Ciente do seu tamanho musical, Diogo não fez questão de se prender ao formato de suas fontes de inspiração e criou versões inusitadas que carregam uma assinatura musical inconfundível.

A escolha do repertório teve como único critério o gosto pessoal. “Eu comecei a cantar a uma altura da vida em que pouca coisa me importa muito. Fiz o disco para mim, com as canções que eu gosto. Quero falar de amor, beleza, de coisas bonitas com músicos bons. Isso é que importa”, confessa.

E é possível afirmar que ele conseguiu fazer isso com excelência. Diogo Poças é transparente, passional e transmite a sua verdade em cada sentença. Depois de uma conversa de pouco mais do que meia hora, já dá para se ter boa noção do que vai na alma desse artista que transpira sensibilidade e ver tudo isso traduzido em suas letras e no jeito com que entoa versos consagrados.

Cheio de Bossa


Aos três anos de idade, o cantor já espalhava sua bossa em gravações familiares. De lá para cá, Diogo se envolveu com publicidade e foi acumulando composições e canções por 16 anos, até que um acidente de moto o obrigou a dar um stop no ritmo frenético da sua vida e disparou um alarme interno: era hora de realizar seu sonho.

“A verdade é que quando você passa por uma situação dessas, desperta uma série de questões internas... eu tive mesmo de morrer mesmo. Daí eu parei, terminei algumas músicas, busquei parcerias e me envolvi nisso. A publicidade não estava me trazendo felicidade”, revela.

Seu sonho de infância era ser crooner, aquele cantor de baladas populares do mesmo naipe de Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Bing Crosby, ou, na tradução de Diogo Poças, “aquele cantor que independe da banda, cantor por profissão mesmo”, define.

Para Diogo, o ofício cantor está muito banalizado nos dias de hoje e é justamente o resgate da indescritível emoção de cantar que ele pretende fazer com o seu talento. “Cantar é diferente de tudo, é como saltar de bungee jump...é uma exposição constante, uma profissão de risco, um nervo exposto...”, dispara.


Como quem mergulha no abismo vazio, Diogo Poças se lançou na cena musical brasileira ousando tirar a poeira do cinqüentenário estilo musical que projetou o Brasil no mundo através dos acordes de Tom, Vinícius e companhia e justifica a sua escolha.

“A Bossa Nova é chique, tem brasilidade, samba, cantor, compositor e harmonia. É a síntese de tudo o que eu amo na vida, sem contar que é um movimento brasileiro, que aflorou no teu jardim e isso não tem preço!”, orgulha-se.

Para Diogo Tom Jobim é o típico artista multitarefa, embora não tenha gravado nenhuma canção do mestre, em seu show faz questão de cantar “Lígia”, como uma forma de homenagear o grande mestre.

“Tom me encanta pela sua sensibilidade artística. Ele é compositor excepcional, intérprete maravilhoso e um pensador acima de tudo”.

 Outro personagem que merece destaque em suas referências musicais é o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil. “Gil está no meu coração. Amo mesmo. Eu tive a sorte de conhecê-lo e é incrível como você se sente pequeno pelo tamanho do cara....”, declara.

Fã confesso, Diogo não resistiu e gravou “A linha e o linho”, uma das mais belas canções de Gilberto Gil. Na voz de Diogo, a música ganhou uma aura de leveza e simplicidade bem diferentes do tom melancólico que o mestre Gil imprimiu aos mesmos versos.

Sobre a ousadia de trazer de volta a Bossa Nova para uma época que nem de longe lembra o romantismo do final da década de 50, Diogo tem uma justificativa simples: “Acredito, sinceramente que a Bossa Nova sempre terá espaço na sociedade. Se não existir isso, prefiro morrer tentando”.

8 de mar. de 2010

Sobre sexo, mentiras e videotape

Foi em clima de descontração e cumplicidade que o elenco da peça PLAY! recebeu o Bastidores da Cultura no último sábado, 6 de março, para uma animada entrevista. Sérgio Marone, Daniela Galli, Rodrigo Nogueira e Cynthia Falabella esbanjaram bom humor e simpatia para falar de um assunto tão polêmico quanto delicado nos dias de hoje: fidelidade.

Com conceitos diferentes sobre o tema, os atores ressaltam justamente o caráter atual do assunto como a razão para o sucesso da peça. “É um texto extremamente contemporâneo, de fácil identificação e que provoca boas reflexões”, destaca Marone. Daniela acredita que esse é um dos fatores, mas acrescenta: “O texto atinge uma gama de faixas etárias muito diferentes, tem uma linguagem muito ágil e a discussão entre o que é verdade e o que é mentira é muito pertinente hoje”, diz a moça.

Roteirista e um dos protagonistas da peça, Rodrigo acredita em um quinto elemento no palco: a cumplicidade entre os atores. “A nossa relação, essa vontade de estar junto dá uma leveza ao texto que é muito quadrado, isso se reflete no humor”, observa o ator. Cynthia faz coro com o amigo: “Teatro é coletivo, se não existe 50% de cada um dos elementos que estão aqui, não funciona”, afirma.

A peça

PLAY! nasceu da vontade da atriz e produtora da peça, Maria Maya, de levar para os palcos uma adaptação do filme “Sexo, Mentiras e Videotape” (1989), do consagrado diretor Steven Sonderberg, que conta a história de um triângulo amoroso entre César (Rodrigo Nogueira) e as irmãs Ana (Daniela Galli) e Carla (Cynthia Falabella).

Maria tentou conseguir os direitos do filme, mas não foi feliz. No entanto, não desistiu da ideia de levar aquela temática para o teatro, assim, contou com apoio de Rodrigo Nogueira, que relembra o episódio. “Diante da impossibilidade de transformar o filme numa peça, Maria decidiu fazer uma peça sobre o filme, trabalhando os conceitos de verdade e mentira. O filme é antigo, o texto é mais profundo, não fazia sentido reproduzir e o resultado agradou direção e produção da peça”, orgulha-se o dublê de ator e roteirista.

Como se pode imaginar, falar de um triângulo amoroso envolvendo irmãs não é uma tarefa fácil, mas Rodrigo dissolveu esse nó com doses extras de bom – humor. Na verdade, a grande temática da peça é o embate entre verdade e mentira, fidelidade e traição, são essas as reflexões que os atores querem levar para o público.

Para Daniella, as relações humanas hoje pecam pela superficialidade e é preciso refletir muito sobre esse assunto para que o amor e o respeito não se percam nesse universo raso. “Hoje usa-se de muitos artifícios, muitas regras e pouca verdade nos relacionamentos. Essa é a grande reflexão que a peça traz", diz.

Para Rodrigo, o grande barato da peça é fazer as pessoas pensarem sobre o tênue limiar entre verdade e mentira no mundo contemporâneo. “Não existe mais diferença entre o real e o ficcional. E se não existe isso, o que me impede de criar uma verdade para mim, de inventar uma vida que eu quero?”, provoca.

Já Sérgio acredita no debate sobre intimidade como o principal questionamento de PLAY! “Não precisa ter intimidade para ter sexo e nem sempre o sexo envolve intimidade e as pessoas estão cada vez mais distantes e carentes”, avalia o ator.


Desde a estreia, o espetáculo está lotando a casa e fazendo sucesso entre jovens e adultos.E se você se interessou pela matéria, corra, a temporada de PLAY! em São José dos Campos está acabando!  



A peça fica em cartaz até 14 de março. Sábado (13), às 21h e domingo (14), às 19h, no Teatro Colinas, que fica na Av. São João, 2.200 - térreo - Jardim das Colinas.ão João, 2.20 na 0na