9 de mar. de 2009

Poesia de bolso


Sessenta e oito páginas. Cinqüenta e duas poesias. Formato pequeno que cabe no bolso da calça ou dentro de uma bolsa sem fazer muito peso. Amor, solidão, saudade e crítica social em versos. Livro pequeno, com poder de transformação. Assim pode ser resumido Vertigens do Tempo.

Publicado em 2008, com incentivo da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, o livro é homônimo do poema que figura na contracapa do livro e traduz o que o poeta Hernani Tafuri (foto abaixo) pensa a respeito do processo de confecção de uma poesia (leia poema no fim deste post). Ele fala sobre um conflito interno que domina as emoções do eu - lírico de repente.


"A idéia de fazer poema é uma vertigem. A inspiração vem de repente e aquela idéia muda o seu pensamento como uma vertigem que corta o seu tempo, o seu movimento normal", diz.

Aos 26 anos, Tafuri já conta com uma vitória em um concurso internacional de peso no terreno poético. Considerando que o rapaz deu seu primeiro mergulho literário há apenas sete anos, na época do cursinho, podemos dizer que começou a carreira de escritor com o pé direito.

Fica a pergunta: o que faz um jovem de 19 anos com um mundo de oportunidades, baladas e micaretas sem fim “perder tempo” com literatura. Pior ainda, com poesia? A resposta vem logo na apresentação de Vertigem do Tempo: Escrevo com imenso amor e sou grato a todos aqueles que me emprestam, mesmo sem saberem, uma fração de suas vidas.

Eis aí, o grande mistério: Amor. E não estamos falando do amor platônico pela garota mais popular da escola ou do amor carnal por aquela vizinha que resolveu lhe dar bola. Os poemas de Tafuri não se resumem a isso. Além do amor, suas linhas transitam por universos ainda mais profundos.

Como todo artista, o jovem poeta tem uma alma sensível e inquieta que se ocupa de questões humanas, sociais e filosóficas profundas. Suas linhas, rimadas ou não, traduzem sua preocupação com as emoções que o ser humano carrega e com o uso que faz delas.

Crítico, o rapaz não se envergonha de dizer que das cinco dezenas de poemas selecionados para o livro, apenas duas poesias
dispensam retoques. Trata-se de Um amor, uma rosa e Quanto Vale?

“Em todos os outros tem algo que pode ser mudado. É uma reticência que sobra aqui, uma palavra que poderia ser modificada ali... nesses dois isso não acontece. Eu leio e digo: ficou bom mesmo!", confessa.


Sobre sua preferência pela literatura, Tafuri garante que não está sozinho. “Os jovens gostam de poesia, mas não têm muito acesso e voltam-se para a música mesmo.” Para ele, o que falta são poetas que se mostrem em saraus, que não trancafiem suas poesias dentro de um baú secreto. “Falta que os poetas tenham iniciativas de criar movimentos como os que aconteciam no passado, diz.”



Quem se apega ao tamanho dos livros de poesias e à complexidade das mesmas para fugir de tal leitura, fica aí uma dica. Não há construções de difícil entendimento. A poesia de Tafuri é feita para os mortais comuns como eu e você. Para quem não está acostumado a esse tipo de leitura, pode ser um bom começo.



Vertigem do tempo


Vertigem do tempo, vertigem:
segundo a segundo formando
um minuto a minuto formando
uma hora, um dia, uma vida...

Vertigem do tempo, vertigem:
quem sou? O que resta
de mim nesta pálida figura
que versa, que chora,
que atravessa o mundo
com o tempo pingando
dos olhos como lágrimas
construindo o arrebol
de um sol atômico?

Vertigem de mim, vertigem:
o que crio sou eu? O que faço
perde-se no vazio
do silêncio contido no
eu te amo de sempre, no
vá e não volte, suporte
imperfeito para o esquecido
solilóquio inaudível?...

Vertigem do tempo, vertigem:
onde estou?

Hernani Tafuri








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