19 de fev. de 2010

Nadiejo usa a música para transformar

Talentoso, bem informado, consciente de seu papel social. Assim é Nadiejo Pedroso, cantor que canta e encanta os ouvintes joseenses há quase quinze anos. Ousado e dono de arranjos criativos para músicas já conhecidas pelo grande público, Nadiejo é um dos poucos brasileiros que conseguem tirar seu sustento da arte, apesar do pouco incentivo à cultura no país. “Eu vivo de música e com a música”, orgulha-se.


Para ele, cantar é mais do que exercer uma profissão ou mostrar um talento, a música assume um sentido que vai além do que se vê à primeira vista. “A música é uma ferramenta de transformação íntima e social e quanto mais pessoas forem atingidas, melhor. Meu objetivo é levar mais emoção e mais beleza para a vida de mais pessoas”, revela sem medo de parecer piegas.


O moço confessa que a maior dificuldade para se firmar em mercado tão pouco valorizado é a financeira, mas acrescenta que, no caso específico de São José dos Campos (SP), falta mais excelência na produção artística. Segundo ele, a cidade tem espaço, público e talentos, mas falta divulgação. “O fazer artístico na cidade ainda é muito amador. Aristas e empresários não investem o suficiente nas produções; os espaços são mal construídos, em alguns, os artistas ficam escondidos como se a música não pudesse incomodar os clientes”, lamenta.


Apesar de todas as dificuldades, Nadiejo tem conseguido bastante fôlego ao longo de sua carreira. Com uma média de 20 shows por mês, atraindo um público que ronda a casa dos cem, o cantor se diz feliz com o seu balanço profissional. Carioca criado em solo joseense, o artista revela que já cantou para públicos diversos em preferências e volume, e garante que todas as adversidades são compensadas pelo prazer de cantar.

A carreira

Maduro e experiente, Nadiejo apresenta formatos de shows diferenciados que dependem do local e do público para o qual vai cantar. Em média, apresentação dura entre duas e três horas em que o cantor faz um mix entre suas composições e os sucessos já conhecidos do público, mas quem vai esperando um cover, ou seja, quem quer fechar os olhos e imaginar seu artista favorito tal a semelhança com o original, é melhor nem perder tempo e ficar em casa.


Isso porque Nadiejo tem um jeito muito especial de interpretar as canções consagradas pelos grandes nomes da música. Sem o menor receio, ele brinca com os arranjos, muda a cor, a cara, a atmosfera da música. Por exemplo, o clássico da fase roqueira do “rei” Roberto Carlos, “É proibido fumar”, ganha a sofisticação do jazz, com pegadas do blues de uma maneira que parece que estamos ouvindo uma outra canção.


Ele conta que tem lá as suas influências e preferências – João Bosco, Lenine, Zeca Baleiro, Caetano Veloso, Baden Powell e o pianista Peter Katter são alguns dos nomes ressaltados pelo cantor – mas o show segue o calor do momento em que está sendo feito. Sem roteiros, programas ou músicas pré-selecionadas ele consegue ler as entrelinhas do seu público e fazer uma apresentação que prima pela paradoxal mistura entre rigor e improviso que resulta em largos sorrisos e sussurros melódicos vindo da sua plateia. “O show vai se criando de acordo com a energia do local. Se é um público mais adulto, faço um tipo de música, se tem criança, faço música para divertir a garotada para que eles também curtam o show”, garante.


Tanta sensibilidade vem desde os tempos em que o menino Nadiejo trocou o piano pelo violão e saiu encantando multidões por aí. Isso aconteceu quanto ainda ensaiava sua entrada na adolescência. O rapaz entrou na vida adulta dividindo-se entre a arte e a faculdade de Direito até que em 1995 descobriu que a rotina burocrática de um advogado não atendia às suas expectativas para o futuro. Largou tudo e arriscou na carreira artística.


Graças à sua garra, determinação e, óbvio, ao seu talento, Nadiejo conseguiu superar todos os desafios e gravar dois CD’s. O primeiro álbum, “Distâncias”,foi lançado em 1998 com canções próprias; o segundo, de 2005 não tem um nome específico, mas ele chama de “Álbum Azul” porque “o encarte é todo feito em azul”, explica. Nesse segundo trabalho, além das suas composições, Nadiejo fez interpretações de sucessos da MPB. Em ambos os casos, a venda dos CD’s se deu por impulso, ou seja, ele oferecia o álbum quando ia cantar e garante que a aceitação do público era boa.


Nas composições autorais, Nadiejo não segue um tema único e usa o mundo que o cerca como fonte de inspiração. “Eu declaro meu amor. Seja por um lugar, por uma cidade, por uma pessoa ou por uma paisagem especial... falo também de sonhos que eu tive durante a noite, de questões cotidianas e de esteriótipos”, confessa.


Na gaveta o artista guarda um projeto muito especial. “Quero gravar um DVD em um formato diferente, privilegiando closes, off’s. com uma coletânea de artistas da região. Quero fazer uma coisa mais artística, apresentando um pouco da história da vida desses artistas”, sonha.
Para ele esse tipo de trabalho de identificação do artista local é fundamental para que a cultura passe a ocupar lugar de destaque na formação do cidadão.


“Falta educação artística, as pessoas não sabem quem são os artistas e se você não sabe quem é Ana Cañas [cantora paulistana que lançou seu primeiro Cd , “Amor e Caos”, em 2007, arrancando elogios da crítica especializada], você não vai se sentir estimulado para ir a um show dela...falta informação e conscientização dos agentes culturais para a formação do público”, avalia.


*As fotos utilizadas nesta matéria fazem parte do arquivo pessoal do cantor

18 de fev. de 2010

Cinthia Jardim é movida por amor

Nascida em Cruzeiro, no interior paulista, Cinhtia Jardim já demonstrava talento e bom gosto musical desde a infância. Aos oito anos de idade a pequena se derretia com as vozes de Elis Regina e Marisa Monte. O tempo passou e a paixão pela música só fez crescer. Adolescente, a moça se mudou para São José dos Campos (SP), estudou Publicidade e se descobriu profissionalmente.

Ainda na faculdade ela fazia pequenas apresentações informais para os amigos que já reconheciam o seu talento vocal. Em 2001 Cinthia conheceu o cantor Nadiejo que a apresentou ao mercado musical joseense. Através do amigo, a moça conheceu outros músicos e bandas e se firmou de vez como uma das protagonistas da cena musical do Vale do Paraíba.

De lá para cá, ela que queria apenas encontrar músicos de qualidade com os quais pudesse tocar, formou, casou, teve filhos, lançou projetos e continua sonhando com o dia em que poderá largar tudo e viver de sua arte. Apaixonada pelo que faz, a moça avalia positivamente o desenrolar de sua carreira. “Está melhor do que eu esperava. No começo eu só queria espaço e músicos para tocar e eu já até gravei um CD. Minha carreira está crescendo na medida em que os sonhos crescem”, afirma.

E para realizar seus sonhos, Cinthia conta com o apoio incondicional do marido e também músico, Fabiano Whyte. Com ele a moça se apresenta pelos bares da cidade no melhor estilo “um banquinho e um violão”, embalando as noites dos joseenses com muita poesia. Além de ser o homem da sua vida, Fabiano é seu parceiro e grande incentivador. Cinthia sintetiza a relação com o amado: “Foi um encontro bacana, uma troca muito boa”, diz.


A cantora sabe do que está falando. Apaixonada por MPB, Cinthia conheceu o rock e o blues pelas mãos de Fabiano e isso só veio a acrescentar ao seu trabalho, ampliando o leque de opções de suas canções. Da mesma forma, ela acredita que seu gosto pela música popular contribuiu bastante para o desenvolvimento profissional de seu marido.


Essa união do trabalho com a família mostra bem a essência da cantora que, segundo suas próprias palavras, é feita de amor. “Amor pelos meus filhos – Cinthia é mãe de Pedro (6) e João (2) – pelo meu marido, pela minha família, pelos meus amigos, pela minha profissão, pela música... É tudo o que me mantém acreditando nos meus sonhos”, declara.


Cena de Mulher


Em total sintonia, os dois seguem seus caminhos juntos e também individualmente e, de cinco anos para cá, a moça tem deixado os covers um pouco de lado para se dedicar a um trabalho autoral que tenha mais a sua cara.


Foi seguindo essa proposta que Cinthia Jardim lançou seu primeiro CD em 2009. Cena de Mulher é um trabalho exclusivamente autoral produzido por Fabiano Whyte, com direção musical de Jorjão Carvalho (arranjador, baixista e compositor). O CD traz notas de pop, salsa, jazz e bolero. Nas letras, Cinthia aborda temas como o amor e a própria música, ou seja, ela fala do seu universo particular.


Para dar corpo ao projeto, Cinthia contou com nomes de peso da arena musical do Vale do Paraíba. Interpretando suas canções estão os músicos Marcelo Moreira (bateria), Fernando Pontes (piano), Clevinho Oliveira (sax e flautas), Leandro Lima (sax), Tuia Lencione (vocais), Eliane Pescara (vocais), Natássia Carvalho (vocais), Beto Richieli (guitarras), Lucas Andrade (guitarras), Freddie Fuzzi (guitarras), Kabé Pinheiro (percussão), Diminha Moreira (percussão) e Soró (percussão).



Foi em um show para mais ou menos 110 pessoas, seguindo uma estética diferenciada que Cinthia apresentou a sua Cena de Mulher para o público. Para compô-la a moça reuniu quatro diferentes talentos femininos que dividiram a cena em total harmonia. Além da música, foram contemplados o teatro, com a presença da atriz Milena Roberta; a literatura, pelas mãos da escritora Nana Freitas e as artes plásticas através do trabalho de Andressa Carvalho.


Para ela o álbum, que é uma mistura de estilos, pode ser definido como “pop, salsa, jazz e bolero”, comenta. Além disso, o trabalho explora mais o seu lado compositora. Modesta, Cinthia revela que esse é o seu favorito. “Acredito mais na minha porção compositora do que na cantora”, assume.


Futuro



Quanto aos próximos sonhos, Cinthia Jardim já sabe bem o que quer e como realizar. “Eu quero ter mais espaço para o meu trabalho autoral e ser reconhecida por isso. Cantar é o que eu mais gosto de fazer, é expressar o que tem de mais íntimo na alma”, revela. Enquanto isso não acontece, ela segue interpretando as canções de seus ídolos e só faz uma exigência: “Meu gosto musical tem que ser respeitado. Só toco o que eu gosto de tocar.”


O que pode parecer egoísmo artístico, na verdade, é um regalo para seu público já que a moça de ouvido apurado tem uma vasta bagagem cultural e um bom gosto inegável. Em seu ipod tocam os hits de Maria Rita, da novata Céu e das americanas Amy Winehouse, Ella Fitzgerald e outros representantes do jazz e do blues. Além dessas, é claro, sempre sobra espaço para as suas “musas” Elis Regina e Marisa Monte e mais recentemente, Jane Monheit tem feito a cabeça e os ouvidos de Cinthia Jardim.


Mais do que um prazer, ouvir música é, para essa cantora, uma forma de aprendizado, de enriquecimento cultural e profissional. Daí sua predileção pelas vozes femininas. “Eu foco em cantoras para aprender mais sobre os recursos e técnicas vocais que elas utilizam, mas eu gosto de outras coisas também”, garante.



E o que ela quer para sua vida? Simples, “ser feliz dentro da música e da família”, dispara.


*As fotos desta matéria fazem parte do arquivo pessoal da cantora.