10 de mar. de 2009

Hoje tem marmelada?!


Foto: Josemar Lucas

Gente, o circo ainda existe vocês acreditam?! Não, não estou falando do circo diário que nos acostumamos a ver no Congresso. Falo daquele circo genuíno que faz gargalhar as crianças. Aquele bom e velho circo com elefante, mágico, palhaço e pipoca.

Ele permanece vivo mesmo em tempos de playstation’s, wii’s e X-box’s e isso não deixa de me espantar. Com total acesso a informação via TV, jornais, revistas e internet, eu podia jurar que as crianças de hoje já não se seduziam mais com mulheres sendo divididas ao meio, coelhos saídos da cartola e palhaços dando banho de confete na platéia, como se fosse xixi.

Ainda mais depois do surgimento do Mister M. que insiste em desvendar os mistérios das mágicas mais surpreendentes, mostrando, talvez cedo demais, o quanto a vida é dura.

O anúncio do Gran Circo Pipoca, que se apresenta em Juiz de Fora no próximo dia 15 me trouxe à mente – além das emoções vividas "na aurora da minha vida", parafraseando o poeta – a lembrança de Neli Aquino. Mulher de múltiplos talentos que vê na arte do palhaço a sua maior virtude.

Com 42 anos ela, que já quis ser médica, é músicista, fotógrafa, formada em Letras, micro empresária e artista plástica (formada) se dedicou a um curso de palhaço e se enche de orgulho dessa função. Neli gosta tanto de ser palhaça que diz que se fosse preciso escolher apenas um de seus múltiplos talentos para se dedicar pelo resto da vida, essa seria a sua escolha.

E por quê? Sem titubear, ela responde: ”Eu acho o riso muito importante... você despertar o riso da outra pessoa através do seu ridículo, do seu lixo, é muito gostoso. Essa é a grande satisfação” – argumenta.

Neli não está falando do riso nervoso, debochado, mas daquele riso espontâneo, honesto que só as crianças sabem dar. Os adultos conseguem acompanhar aquelas gargalhadas estridentes e incontidas, mas o efeito neles é bem menos intenso. Isso porque o "mágico dos mágicos" do universo deles (leia-se: a mídia) desmistifica os encantos do dia-a-dia, mostrando uma realidade dura demais e poucas são as "nelis" da vida real que conseguem sublimar a pressão rotineira, a crise financeira e transformá-la em riso.

Um riso libertador, que expurga todos os pecados, as contas para pagar, o chefe exigente, os problemas de família, o casamento mal sucedido. Infelizmente, os anos vivido já nos travestiu tantas vezes de palhaço que já não há novidade nesse mister.

Vivendo no Brasil, todos os dias temos a nítida sensação de que somos palhaços há muito tempo. Mas por mais que os castelos “secretos” (que nada têm de encantados) façam com que a gente sinta arder o nosso nariz vermelho, é preciso ter em mente que, ao contrário dos políticos que nos ludibriam com cretinices esfarrapadas na TV, os artistas – palhaços estão aí para nos oferecerem um pouco de dignidade, ingenuidade e um riso puro, sincero e limpo.

Na verdade, se fossemos palhaços, sem dúvida alguma, seríamos mais felizes. Segundo Neli, quando se transforma em palhaço "a pessoa se despe do convencional e se assume autêntica, mostrando a sua ingenuidade, a sua fragilidade e seus defeitos. O palhaço se expõe muito e faz graça dos próprios defeitos", descreve.

Se hoje tem marmelada?! Basta abrir os jornais...