11 de mar. de 2009

A exclusão social por Adenilde Petrina Bispo

Mulher, negra e pobre ela é o retrato da exclusão social no Brasil. Ou pelo menos, deveria ser, se Adenilde Petrina Bispo fosse uma mulher qualquer. Dona de um senso crítico aguçado e de um discurso muito bem elaborado que sai de sua boca sem que seja preciso fazer força, Adenilde tem no hip hop a força de sua resistência.

Nós nos acostumamos a ver o estilo meio de banda, com receio e até com um certo medo os adoradores dessa música mais falada do que cantada, entoada de uma forma rápida, quase inteligível, mas bastam cinco minutos de conversa com Adenilde para entendermos que este é um estilo que vai muito além de estereótipos forjados pelos filmes americanos.

Na periferia de Juiz de Fora ela fala mais alto e luta por tudo o que acredita, enfrentando toda sorte de preconceitos. Tudo em nome de uma causa que não é só dela, mas de muitos outros. "O hip hop é um caminho de eu levar informação para eu conseguir atingir meu objetivo de vida que é o fim das desigualdades, do racismo e do preconceito de qualquer espécie", diz.

Num bairro onde reinavam violência e preconceito contra homossexuais, ela, através de suas idéias e de sua voz conseguiu reverter o quadro na época em que a Rádio Mega ainda estava no ar. Rádio comunitária, que há mais ou menos seis anos teve que sair do ar.

Desde aquela época, Adenilde trabalha com seus ouvintes e seguidores os cinco elementos do hip hop: break (dança), grafite (artes plásticas), MC (responsável por apresentar a cultura para a comunidade), DJ (responsável por pensar as bases da cultura), rap (poesia) e a informação, incrementada recentemente.

E para quem desbanca a relevância da informação na cultura hip hop, a guerreira dispara: "Não adianta trabalhar os quatro elementos sem informação. Temos que estudar, conhecer a nossa história para poder manter os elementos unidos e enriquecer a nossa cultura. Sem estudo nada dá certo".

Não satisfeita com o fim da Rádio, Adenilde continua realizando reuniões, em sua casa mesmo, para discutir temas como racismo, preconceito, desigualdades, oposição entre centro e periferia, homossexualismo etc. Com isso ela espera mudar a consciência da sua comunidade e convencer os jovens a trocarem a violência e a bandidagem pela arte e pela cultura hip hop.

Sua inspiração está nos fatos. Adenilde garante que houve redução da violência contra os homossexuais do bairro e também do consumo de drogas desde que essas reuniões começaram. "Muitos de nossos jovens largaram as drogas para investirem no hip hop: tem grafiteiro dando oficina, outro menino ensina break em uma companhia de dança que ele mesmo criou...".

Exemplos como o de Adenilde me fazem ter orgulho de ter nascido em um país tão rico e tão plural no que se refere a manifestações culturais. Enquanto alguns políticos diplomados e engravatados envergonham a nação publicamente, histórias de garra, coragem e amor ao próximo ploriferam na clandestinidade. Ninguém fala deles.

Como flores no asfalto, essas iniciativas resistem à poluição que cristaliza as mentes, ao vaivém de automóveis que desvia a atenção para o que acontece ao lado e colorem a realidade nacional com matizes múltiplas, suaves que me fazem bater no peito com orgulho e repetir a manjada frase usada como campanha governista, mas que faz todo o sentido: “Sou brasileira. Não desisto nunca”.

Não desisto de lutar, não desisto de descobrir outras tantas Adenilde’s escondidas nos rincões desse país e escancarar seus feitos a quem quiser conhecê-los.Não desisto de aplaudir a sapiência humana que ultrapassa livros e cadernos. Sou brasileira e não desisto nunca de ver esse país deixar de esperar o futuro que nunca vem.

Futuro que já chegou. E a velha máxima "o Brasil é o país do futuro" continua a ser repetida como aquela promessa de campanha que jamais se cumpre, mas que satisfaz os momentaneamente os eleitores, dando-lhe a falsa esperança de que dias melhores virão.