15 de ago. de 2009

O Brasil está gordo

Assistindo ao Globo Repórter da última sexta-feira fiquei com uma indagação: em que momento perdemos a medida da dose na luta desenfreada por belas formas físicas? Até que ponto compensa passar horas e horas sem comer, se matar na academia, deixando o convívio familiar, a reunião com os amigos em segundo plano?

Jovem adulta em início de carreira, pensando em constituir família e em eterna luta contra a balança, confesso que fiquei um tanto chocada ao ver crianças muito acima do seu peso ideal terem que aprender a brincar para queimar as calorias ingeridas em horas a fio diante da tela do computador ou do videogame. Brasileirinhos que não estavam acostumados a correr, pular corda ou jogar bola só incorporaram esses hábitos agora, depois da recomendação dos médicos.

Nossas crianças não sabem mais brincar e os pais não dedicam mais seu tempo para ensinar o bem que frutas, verduras e legumes fazem no organismo. E de quem é a culpa? Fácil jogar o peso nas largas e calejadas costas da sociedade, mas quem forma a sociedade? Mesmo que você esteja querendo fingir que não, você sabe exatamente a resposta. A sociedade somos nós, homens e mulheres que se deixam seduzir por um ideal de beleza que é praticamente inatingível.

Longe de ter o corpo perfeito, desde a adolescência vivo em guerra com a balança, mas com a consciência tranquila de que ingerir alimentos saudáveis nunca foi um sacrifico. Desde criança estou acostumada a uma alimentação rica em fibras e vitaminas. O grande problema é que o açúcar é muito sedutor e sabe usar as armas certas para me conquistar. E o que me trouxe a esse post foi o fato de as brincadeiras aparecerem como recomendações médicas. Assim como meu médico me ensina a ministrar um novo medicamento, os dessas crianças as ensinam a brincar (!).

A matéria de ontem fez com que eu me sentisse vivendo em um mundo surreal onde as crianças de hoje vivem em um mundo sem fantasias. Na minha época uma criança gordinha era só uma criança gordinha, que ia chegar ao peso certo quando crescesse. Hoje, uma criança gordinha é um flagelo social, um sinal de descaso familiar, motivo de escárnio na escola e nas ruas das cidades. E diante desse panorama cruel, passam a ter que conviver desde cedo com o ambiente neurótico das academias, crescem com traumas e preconceitos de si mesmas. Dramas que eram vividos na adolescência e/ou na vida adulta surgem mais cedo e o sentimento de estar “fora do grupo” já atinge os que têm menos de 11 anos de idade.

Favorável a uma dieta saudável desde cedo, acredito que é preciso repensar toda a alimentação do mundo moderno, não só aquela que vai à mesa, como aquela que sustenta a alma. É preciso equilíbrio e bom senso para chegar a uma educação alimentar de qualidade e generosidade e humildade para lidar com as diferenças e respeitar o drama alheio. Ser gordo em um mundo onde a magreza é enaltecida é algo que vai muito além da balança e atinge um número muito maior do que se imagina.

Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2007, 13% dos brasileiros adultos estão obesos, outros 43,3% estão com excesso de peso, o que significa que mais da metade da população nacional não está dentro do limite considerável saudável, mesmo com todos os avanços na área de endocrinologia. Esse é um indicativo de que há uma falha, um ruído na comunicação entre a população e os médicos, e, infelizmente, esse ruído é a mídia que dia após dia coloca a magreza como sinônimo de sucesso pessoal e profissional.

Está na hora de repensarmos essa cultura do corpo e usarmos os resultados das pesquisas científicas relacionadas à alimentação como nossos aliados e não como inimigos da nossa saúde. Caso contrário, vamos engrossar as estatísticas (que também já estão gordas) dos distúrbios alimentares graves como anorexia e bulimia.

Fazer isso só depende de nós, basta olharmos com atenção para o que estamos comendo e modificar nossos hábitos para garantir uma vida saudável e bem mais leve, em todos os sentidos. Lembrando sempre que, mais do que uma preocupação estética, estar com o peso ideal é uma necessidade para o bom funcionamento do organismo.