30 de jun. de 2009

Passado e presente

Por força de um convite para participar de um projeto de pesquisa para um doutorado em educação me vejo mergulhada em notícias da primeira década do século XXI em Juiz de Fora e qual não é a minha surpresa ao perceber que quase nada mudou de lá pra cá.

Não fosse o meu advento no mundo virtual que me permite ler o jornal local via internet eu diria que tudo continua, praticamente, como há dez anos. As notícias são basicamente as mesmas: violência, falcatruas políticas, greves, protestos, campanhas políticas e por aí vai.

Entre os personagens da política (local e nacional) também não há muitas novidades. São sempre as mesmas caras, as mesmas “figurinhas carimbadas” que há décadas comandam o País sempre se auto-definindo como a “salvação da lavoura”. Essa lavoura arcaica que não consegue se renovar, e se prende ao que já está aí por medo, comodismo ou – o que é pior – sem nem perceber que está repetindo padrões falidos.

E aí, sem aprofundar na questão, considerando o meu pouco preparo para análises mais densas, me fica uma questão: será que em dez anos o país não mudou nada? Será que não conseguimos evoluir nem um “cadinho”? Os fatos se repetem, a forma de noticiá-lo se repete...

O que acontece então? Em quem colocar a culpa? Numa época em que a informação circula à velocidade da luz, em que as novidades chegam a todo o momento e a sociedade se diz pós – moderna como é possível essa repetição?

Se os personagens insistem em ser protagonistas da mesma cena sempre, já não seria hora de substituir o elenco, escalar novos atores para dar gás a essa trama? Acredito nos cidadãos brasileiros como diretores dessa história e me assusta que pouco esteja sendo feito para alavanca o ibope dessa novela social.

29 de jun. de 2009

Mais sobre Michael Jackson


O fim de semana foi marcado por uma enxurrada de notícias sobre o rei do pop, Michael Jackson morreu como viveu a vida inteira: em meio a uma série de polêmicas, em circunstâncias que deixam muitas dúvidas.

Assim foi a vida de MJ desde que se tornou uma celebridade, ainda criança. Àquela época os boatos eram sobre os maus tratos sofridos pelos pequenos Jackson’s e o suposto abuso sexual por parte do pai. Depois vieram a homossexualidade, a mudança de cor, a acusação de pedofilia e por aí vai...

Há muito tempo longe dos holofotes ele voltou a ser notícia quando partiu dessa para melhor e aí choveram notícias sobre o astro. Cada veículo com uma história diferente, cada canal de TV com uma novidade, um depoimento de vizinho, empregada, cabeleireira e toda sorte de pessoas que por ventura tenham cruzado a mesma calçada com o Michael Jackson.

Com um estilo completamente diferente de tudo o que já tinha sido visto até sua estreia diante das câmeras, MJ revolucionou a maneira de fazer videoclipes no mundo, fez de cada um uma superprodução com direito a diretores de Hollywood. E mostrou ao mundo uma dança inigualável que, por mais que já tenha sido copiada à exaustão, jamais terá comparação. Sim, "não haverá outro Michael como ele", com disse o jurado do American Idol, mas..

Como todo gênio, Jackson tinha lá suas excentricidades. Aos 50 anos gostava de brincar e se comportar como uma criança numa busca desesperada pela infância que lhe fora roubada pela ambição exacerbada de seus pais. Aos cinco anos trabalhava como adulto, amealhou uma fortuna enorme que buscava usufruir do jeito que mais gostava: brincando.

Se ele era inocente de verdade ou não, não posso dizer, não o conheci pessoalmente, não sei o que se passava em seu dia-a-dia, mas uma coisa é fato: algo no seu passado afetou seu estado emocional de tal forma que, assim como seu personagem favorito, Peter Pan, Michael se recusou a crescer e entre cirurgias plásticas, coquetéis de remédios e um figurino brilhante e espalhafatoso ele conseguiu viver no mundo mágico que construíra para si.

Penso que a notícia de sua morte está sendo explorada em demasia, mas há algo por trás dessa história que merecia maior destaque. O que me fica é um questionamento sobre o trabalho infantil que não é condenado: o dos pequenos artistas. Essas crianças que enfrentam câmeras, luzes, que decoram textos e fazem graça diante das telas sem saberem ao certo o que está lhes acontecendo.

Recentemente, a Justiça entrou em cena para defender os direitos da pequena Maisa – a garota de seis anos que trabalhava com Sílvio Santos – porque devido ao seu sucesso com o público, o apresentador se viu no direito de expor a menina a situações constrangedoras.

Será que quando Michael tinha a idade de Maisa alguém pensou que quando crescesse ele se tornaria um adulto problemático com sérios problemas de identidade e de aceitação da própria imagem? E o que será das mentes de outras crianças que experimentaram o sucesso desde cedo ou que brilharam quando pequenos e depois tiveram que enfrentar o ostracismo?

Creio que mais do que lamentar a morte do ídolo pop, é preciso aproveitar o gancho e repensar essas questões. Os programas de entrevista têm aí uma grande pauta a explorar. Fica a dica!

*Foto retirada do site da rádio Cultural Distrital FM

18 de jun. de 2009

Sim, nós temos diploma!

Depois da notícia que chocou o universo jornalístico na tarde de ontem, minha primeira reação foi de revolta. Passado o susto, ficou... a revolta. Se esta construção lhe parece estranha, eu explico.

Num primeiro momento revoltei-me com o fim da exigência do diploma, depois o que me revoltou foram os argumentos usados para justificar tal ato. Ok, o diploma não é garantia de excelência profissional e muitos dos profissionais que admiramos e respeitamos hoje não tinham o bendito registro, mas... ele se tornou obrigatório e as regras do jogo mudaram.

O jornalismo que era função opinativa passou a ter caráter informativo, o que mudou toda a estrutura de construção de uma notícia. Concordo que a maior escola é a prática (benditos sejam os meus estágios no meu processo de aprendizado), no entanto, se não soubesse o mínimo de teoria sobre o fazer jornalístico, não teria me mantido numa redação nem como aprendiz.

Disseram os defensores do projeto que a exigência do diploma fere os direitos da liberdade de opinião e informação. A meu ver, essas nunca foram tolhidas, afinal, as seções opinativas jamais morreram (nem devem morrer posto que fazem o elo entre o indivíduo e o mundo que o cerca), em especial nos dias de hoje em que a interatividade é a tônica de todas as profissões.

Se qualquer cidadão vai poder exercer a profissão de jornalista, então, que entendam aquilo que os ministros parecem não compreender: as principais regras do jornalismo são a objetividade e a IMPARCIALIDADE. Ou seja, não exigir o diploma fere um princípio básico da profissão e não o direito de liberdade de expressão. Textos opinativos, escritos em primeira pessoa,como este que você está lendo, têm seus espaços garantidos nas publicações impressas onde os autores assinam artigos e/ou crônicas como colaboradores. Logo, esse argumento é falho.

Quanto ao fato de comparar jornalista à artista, bem... acho que dispensa comentários. Penso ser clara a diferença entre uma coisa e outra. Será que o Supremo Tribunal Federal acredita que a Fátima Bernardes vai estrelar a próxima novela das oito fazendo par romântico com o William Bonner?


Apesar de toda a revolta, acredito que esse não será o fim das faculdades nem do diploma. Creio que as faculdades terão que se repensar e o diploma vai começar a ser um diferencial para o profissional. Prefiro (e preciso) acreditar que os donos de empresas jornalísticas de qualidade não vão colocar o bolso acima da idoneidade de seus veículos e, sendo assim, não se arriscarão a colocar seus jornais, revistas, rádios, sites e tv’s nas mãos de pessoas despreparadas.

Ok, ok, ok. Confesso meu romantismo, mas eu ainda faço parte daquele seleto grupo de pessoas que ainda acredita que o bem vence o mal no final e que tudo tem o lado bom. Talvez isso seja culpa dos inúmeros desenhos animados da década de 80 que assisti ou às incansáveis vezes em que li (e assisti) a história de Pollyana, a órfazinha loira que transformou a vida das pessoas no pequeno povoado em que vivia sua amarga tia.

Voltando à realidade e dando certa dose de realismo ao meu discurso, admito que as faculdades têm as suas falhas e que nem sempre formam profissionais de qualidade, mas não é justo que as regras do jogo sejam alteradas tão drasticamente por conta de maus jogadores. Se for para ser assim, então, acaba logo com o Congresso!

4 de jun. de 2009

Acidente com avião

Se o título deste post lhe atraiu porque você está buscando alguma novidade sobre o acidente com o airbus, perdeu a viagem. Sim, falaremos do acidente neste post (quase uma reestreia dado o longo período de afastamento), mas sob uma outra perspectiva.

Não me interessa saber quantas horas de voo tinham piloto e co-piloto nem mesmo a história de vida de cada uma das vítimas. Antes que me chamem de insensível, acho que existe algo muito mais grave aí que merece ser comentado.

Nunca concordei com essa postura dos jornalistas de esmiuçar cada detalhe emocional de uma tragédia dessa proporção. Depois que passei pela faculdade, então, a revolta é ainda maior. Aprendi no curso que acabo de concluir que o jornalista deve se preocupar com o seu público antes de qualquer coisa. E isso é completamente esquecido quando se coloca no ar entrevistas com parentes de vítimas esse fator não é levado em conta.

Mais de duas centenas de pessoas morreram num acidente de proporções internacionais e a mídia convencional se preocupa em relatar o último contato que esses indivíduos fizeram com suas famílias. Se nenhuma informação sobre o que realmente aconteceu pode ser divulgada ainda, então, que sejamos honestos com o público e esperemos que os fatos possam ser transmitidos com dignidade, oras!


Por mais cruel que isso possa parecer, essas histórias não são notícia, só servem para engambelar o telespectador/leitor/ouvinte/internauta enquanto nada se comprova.A dor alheia não pode ser atrativo para vender jornal. E o erro aí não está só nos jornalistas, mas também no público, afinal, se esse tipo de situação se repete tragédia após tragédia é porque vende mesmo.

Infelizmente, essa é a realidade e não nos cabe aqui descobrir “quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha”, o fato é que é preciso mudar essa cultura de querer saber tudo sobre esses acidentes de comoção nacional seja pelo número de vítimas ou pela brutalidade da situação (ou vocês já se esqueceram do que foi feito com Ana Carolina Jatobá à época do assassinato de sua filha Isabella?).

Ao se entreter com essas histórias que são, sim, comoventes e capazes de arrancar lágrimas, as pessoas se esquecem de que algo de grave por trás desse acidente. Um avião desse porte não cai à toa. E a falha foi de quem? Da empresa de aviação francesa? Do piloto? Foi um atentado terrorista como já se especulou?

Essas questões não podem ser deixadas de lado. Isso é o que verdadeiramente interessa para a sociedade, para que esta mesma possa cobrar atitudes a quem de direito e evitar que novas famílias sofram o flagelo de uma perda tão brutal.

Ao invés de invadir o momento de fragilidade dessas famílias, tornando-as mercadorias na TV, internet e nos jornais, os repórteres deveriam se ocupar de procurar possíveis causas desse acidente, usar seu poder de persuasão para conseguir que fontes seguras lhe passem informações oficiais.

E o público, que não é tão passivo quanto se imagina, deve fazer um exercício de solidariedade e, ao invés de querer mexendo na ferida alheia, deve fazer um exercício de altruísmo e solidariedade. Que tal inverter os papéis e imaginar como se sentiria caso estivessem naquele avião seus pais, seu filho ou o amor de sua vida?